“Ponte Salvador-Itaparica: Governo avança, mas quem paga o preço? 62 campos de futebol entram na mira e povos tradicionais acendem o alerta”
- Nilson Carvalho
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Por: Nilson Carvalho – Papo de Artista Bahia
A Bahia acaba de assistir a mais um capítulo dessa novela que atravessa décadas: a tão comentada Ponte Salvador-Itaparica. Desta vez, o Governo do Estado declarou como utilidade pública uma área gigantesca — 445.222 m², o equivalente a 62 campos de futebol — no município de Maragogipe. Tudo para ser usada como canteiro das obras da ponte que promete encurtar distâncias, acelerar o desenvolvimento e movimentar a economia.
Mas a grande pergunta é: desenvolvimento para quem?
Porque onde tem máquina avançando, tem gente sendo apagada.
O decreto, assinado pelo governador Jerônimo Rodrigues, já está valendo e libera medidas urgentes para que o Estado tome posse temporária da área. A empresa responsável pela concessão do sistema rodoviário também recebeu sinal verde para agir — inclusive judicialmente — caso encontre resistência.
Para quem olha de longe, parece progresso. Mas para quem vive ali, pisa ali e reza ali, a história é outra.
Quando o progresso chega, o território sente — e o povo também
Em setembro, o Ministério Público Federal acendeu o farol vermelho e passou a fiscalizar o processo. Isso porque comunidades tradicionais — indígenas, pescadores, marisqueiras e terreiros de candomblé — podem sofrer impactos profundos e irreversíveis.
Em audiência realizada pelo próprio MPF, vieram à tona denúncias que muita gente finge não ver:
⚠️ risco às práticas religiosas;
⚠️ ameaça às terras indígenas;
⚠️ prejuízo à pesca artesanal e à economia popular;
⚠️ especulação imobiliária voraz, que expulsa moradores antigos e infla preços.
Gente que vive da terra e do mar está preocupada com o futuro — e com razão. Quando grandes obras chegam, o barulho das máquinas quase sempre fala mais alto que a voz do povo.
Estaleiro de Maragogipe entra no jogo
O governo também fechou acordo para usar parte do Estaleiro São Roque do Paraguaçu como base da construção. O local pertence à Petrobras e está abandonado há anos. Agora servirá para fabricar peças pré-moldadas da ponte.
O que deveria ser apenas um detalhe técnico vira, novamente, ponto de disputa: quem garante que o uso desse espaço não vai aprofundar ainda mais os danos sociais e ambientais?
Nova secretaria, cargos e milhões
Outro movimento polêmico foi a criação da Secretaria Extraordinária do Sistema Viário Oeste – Ponte Salvador-Itaparica, com 33 novos cargos e um custo estimado de R$ 1,4 milhão em três meses.
Para quem defende a obra, é investimento.
Para quem luta pela sobrevivência em comunidades tradicionais, é gasto desnecessário.
Para quem vive do salário mínimo, é uma afronta.
Promessa antiga, impactos atuais
A ponte não é novidade. Desde 2009, quando Jaques Wagner anunciou o projeto à então ministra Dilma Rousseff, ela vem sendo tratada como o “grande sonho da Bahia”. Agora, o governo diz que as obras começam em junho de 2026.
Mas sonhos custam caro. E a pergunta que ecoa no coração do povo é simples:
vale a pena atropelar territórios, tradições e vidas em nome do progresso de poucos?
De um lado, a promessa de desenvolvimento.
Do outro, a certeza de que quem mora na área será o primeiro a sentir as consequências — boas ou ruins.
No fim, só existe um caminho justo: desenvolvimento que não arranque raízes.
Comente: Você acredita que a ponte trará benefício para o povo ou mais prejuízo para quem já carrega o peso da desigualdade?
Foto: Internet



