“O Dia em Que a Jamaica Chorou e a Bahia Sentiu: A Partida de Jimmy Cliff e o Legado que o Povo Não Pode Esquecer”
- Nilson Carvalho

- 24 de nov.
- 2 min de leitura

Por: Nilson Carvalho – Papo de Artista Bahia
A música mundial amanheceu de luto. O reggae perdeu seu mensageiro, e a cultura global perdeu um dos seus maiores pilares. Jimmy Cliff, aos 81 anos, fez sua travessia final após complicações de saúde na Jamaica, deixando um vazio que ecoa como tambor do coração do povo.
Cliff não foi apenas um cantor. Ele foi voz, resistência, militância, espiritualidade e ponte cultural entre mundos, inclusive entre a Jamaica e a nossa amada Bahia — onde plantou uma de suas raízes mais profundas.
A família confirmou que o artista sofreu uma convulsão decorrente de uma pneumonia. Cercado pelo amor da esposa, Latifa, e de uma equipe médica dedicada, ele partiu sentindo o carinho que sempre recebeu dos fãs. “Ele sentia esse amor”, afirmou a companheira. Um recado que atravessa o coração de todos nós que fomos tocados por sua música.
O REGGAE PERDE, MAS O POVO GANHOU PARA SEMPRE SUA MENSAGEM
Para quem luta, Cliff foi mais que artista — foi profeta da igualdade, defensor da consciência negra, cantor de dores e esperanças.
Sua obra sempre denunciou desigualdades, inspirou jovens periféricos e deu voz aos que nunca foram ouvidos.
Mais que ritmo, ele trouxe revolução tranquila, aquela que transforma sem gritar, que liberta sem violência, que une sem cobrar.
E é isso que o povo precisa entender: a morte física de Cliff não apaga sua presença. Seu legado segue vivo cada vez que um jovem da favela encontra na música uma saída, um orgulho, um caminho.
BAHIA: A CASA BRASILEIRA DE JIMMY CLIFF
Pouca gente sabe, mas um pedaço da história desse ícone nasceu aqui.
Em 1992, em Salvador, veio ao mundo Nabiyah Be, sua filha com a psicóloga baiana Sônia Gomes da Silva.
Anos mais tarde, Nabiyah brilharia em Hollywood, no filme Pantera Negra, levando com ela o sangue jamaicano, o axé baiano e o orgulho do pai.
A Bahia também guardou um dos momentos mais delicados da carreira de Cliff:
Em 1980, minutos antes de subir ao palco com Gilberto Gil, ele recebeu a notícia da morte de seu pai.
Devastado, escolheu cantar.
E dessa dor nasceu uma das performances mais intensas de sua vida.
“Uma força que nunca tinha sentido”, descreveu.
Porque quando o palco chama e o povo espera, o artista se torna maior que a própria dor.
A PERGUNTA QUE FICA: O QUE O POVO FAZ COM UM LEGADO DESSES?
A partida de Jimmy Cliff nos provoca.
Estamos cuidando da nossa cultura como deveríamos?
Estamos valorizando os artistas que levantam bandeiras de igualdade?
Ou só lembramos quando o corpo cai?
A morte do ícone jamaicano deveria servir como espelho para nós — povo que luta, que canta, que sofre e que resiste.
Legados como o de Cliff são armas contra o racismo, a pobreza, o esquecimento e a desvalorização das raízes negras.
Perder Jimmy Cliff é duro.
Mas esquecer o que ele plantou seria imperdoável.
“Se a música dele já tocou sua alma, compartilhe esta matéria. A cultura vive quando o povo decide não deixar morrer.”
Foto; Internet







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