Quando a dor cala, a dignidade deve falar
- Nilson Carvalho
- há 9 horas
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A morte nunca manda aviso. Ela chega em silêncio, interrompendo rotinas, desestruturando lares, dilacerando corações. Em meio ao luto, à ausência irreparável e ao vazio que grita dentro da alma, muitas famílias ainda se veem presas a algo que deveria ser simples: o direito de se despedir.
Despedir-se. Um gesto humano, essencial, que dá sentido à finitude. E mesmo isso, para muitos, tem sido um privilégio negado.
Quantas mães, pais, filhos e irmãos já não puderam dar o último adeus por não terem sequer o valor da condução? Quantas lágrimas não secaram no rosto por falta de uma última chance de olhar nos olhos — ainda que imóveis — de quem amaram por toda a vida?
Em Salvador, uma nova medida vem tentar preencher essa lacuna silenciosa da dor: o auxílio funeral agora inclui o transporte dos familiares consanguíneos até o sepultamento. Pode parecer pequeno, mas é imenso. É o reconhecimento de que o luto é um processo que começa com a presença — com a despedida. É a cidade dizendo: você não está só.
A decisão, publicada no Diário Oficial, coloca em prática algo mais profundo que logística. Coloca em prática humanidade. É a mão estendida quando todas as outras parecem ter se recolhido.
Mais do que uma regra, é um símbolo. Porque cuidar dos vivos, mesmo diante da morte, é uma forma de preservar a dignidade. E dignidade, no fim, é o que todos queremos — até o último instante.
Que outras cidades e corações possam seguir esse exemplo. Que o luto, embora inevitável, seja menos solitário. Porque ninguém deveria precisar de ajuda para chorar, mas se precisar, que encontre.
Foto: Internet
Texto: Jornalista Nilson carvalho
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