“TRONCO, CHICOTE E SILÊNCIO: A VIOLÊNCIA QUE AINDA PRISIONA NOSSAS CRIANÇAS — E QUE A BAHIA NÃO PODE MAIS ACEITAR”
- Nilson Carvalho

- há 22 horas
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Por: Nilson Carvalho – Papo de Artista Bahia
A Bahia, berço da resistência negra no Brasil, acordou mais uma vez com o coração apertado. Um vídeo gravado em plena atividade do Dia da Consciência Negra, dentro de uma escola particular e religiosa de Alagoinhas, escancarou uma ferida que nunca cicatrizou: o racismo travestido de “atividade pedagógica”.
Nas imagens, um menino negro, vestido com roupas rasgadas, aparece amarrado a um tronco improvisado. Ao lado dele, um aluno branco segura um chicote. A cena, que deveria educar, machucou. Que deveria conscientizar, feriu. Que deveria exaltar a história, apenas repetiu a dor.
O vídeo, publicado pela própria instituição e rapidamente apagado após a repercussão, gerou indignação em todo o estado. E como não geraria?
Como, em 2025, ainda podemos aceitar que uma criança negra seja colocada no lugar do sofrimento, enquanto o “protagonismo” é entregue, mais uma vez, à figura branca que chicoteia ou assina a Lei Áurea?
A professora e escritora baiana Bárbara Carine foi uma das vozes que levantaram a bandeira da indignação:
“Decidiram reproduzir dor. Reproduzir violência. Protagonismo branco. Isso não faz sentido.”
Ela lembrou, com razão, que tantas personalidades negras poderiam ter sido homenageadas:
Luiz Gama, Luísa Mahin, Maria Felipa.
Nomes que lutaram, resistiram e mudaram a história. Mas a instituição escolheu o caminho mais raso, mais doloroso, mais violento.
O PERIGO DO “É SÓ UMA ENCENAÇÃO”
O colégio afirmou, em nota, que as imagens foram “desconectadas de seu contexto” e que “interpretações equivocadas” podem ter sido formadas.
Mas vamos falar claro, do jeitinho que o povo entende:
Precisamos normalizar criança negra no tronco para explicar racismo?
Precisamos amarrar corpos pretos para falar de liberdade?
Por que a escola não colocou o aluno branco no tronco?
Porque dói, né? Porque machuca ver o sofrimento do outro no nosso próprio corpo.
Pois essa dor é exatamente o que a comunidade negra vive há séculos. E é essa dor que não pode — NUNCA — ser transformada em espetáculo.
O QUE ESSE EPISÓDIO ENSINA AO POVO?
Ensina que o racismo não está apenas nos xingamentos ou agressões diretas.
Ele vive nas escolhas pedagógicas, na construção simbólica, no olhar que escolhe quem sofre e quem “ensina”.
Ensina que precisamos vigiar escolas, cobrar formação antirracista, exigir materiais que valorizem crianças negras como protagonistas da própria história — não como objetos de violência.
Ensina, também, que ações mal conduzidas podem gerar mais trauma do que conscientização.
A QUESTÃO É SIMPLES:
Atividade do Dia da Consciência Negra deve libertar, não aprisionar.
Deve elevar, não humilhar.
Deve fortalecer, não reproduzir violência.
E se isso não está claro dentro de uma escola, temos um problema muito sério — um problema que exige postura, investigação e transformação urgente.
O QUE O POVO GANHA — OU PERDE — COM ISSO?
Se nada mudar, quem perde é o povo.
As crianças.
A educação.
A luta por igualdade.
Se o choque desse episódio gerar debates reais, capacitação séria e revisão profunda de práticas racistas, então o povo ganha:
Ganha dignidade, reconhecimento, respeito e um futuro no qual nossas crianças negras não sejam mais colocadas no papel do sofrimento, mas sim da vitória.
“Se a escola ensina dor, o povo reage com consciência. Compartilhe para que nenhuma criança negra volte a ser amarrada — nem na história, nem na vida real.”
Foto: Internet







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