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São João: saber a origem é honrar a cultura. E entender o santo é separar do profano!

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Por Nilson Carvalho – Jornalista, professor de Artes, Embaixador da Paz e Embaixador dos Direitos Humanos


Todo mundo ama o São João. As bandeirinhas, a canjica, a quadrilha, o licor, o forró que não deixa ninguém parado. Mas enquanto a fogueira aquece o corpo, é a história que deveria aquecer a consciência. Porque quem dança sem saber o que está celebrando, repete sem refletir. E cultura sem consciência vira só consumo.


O São João não é só festa, é memória. É rito, é fé, é resistência. E se hoje é fácil ver a celebração ocupando shoppings e palcos gigantes, nem sempre foi assim. O que muita gente não sabe é que antes do som alto e do marketing, existia o silêncio da terra, o canto do povo simples, a fogueira acesa com respeito. A festa, que parece tão brasileira, nasceu lá atrás, na Europa antiga, quando os povos celebravam o solstício de verão como símbolo da renovação da vida. E quando o cristianismo chegou, soube fazer o que a religião sempre fez com sabedoria estratégica: incorporar e ressignificar.


João Batista entra nesse cenário como o símbolo do anúncio, do batismo, da transformação. Primo de Jesus, aquele que batizou o Cristo e teve a cabeça pedida numa bandeja. A fogueira de Isabel, acesa para anunciar o nascimento do filho, se tornou símbolo. E foi assim que a tradição veio parar aqui, trazida pelos colonizadores portugueses, misturada às raízes indígenas e africanas. O que temos hoje é um retrato vivo da pluralidade que nos forma.


Mas o que estamos fazendo com essa herança?


No lugar do respeito ao sagrado, há excesso. No lugar da memória, a pressa. Estamos apagando a linha entre o santo e o profano, e isso não é moralismo, é responsabilidade cultural. Não se trata de dizer o que pode ou não na festa. Trata-se de entender que a fé que deu origem ao São João carrega um sentido. Que a dança ao redor da fogueira não é só estética — é simbólica. Que o milho cozido não é só comida — é tradição ameríndia que resistiu. Cada elemento carrega um saber, e ignorar isso é se desconectar das raízes.


Por isso é fundamental ensinar a juventude. Mostrar que São João não é só arrasta-pé e selfie com chapéu de palha. É história viva. É saber ancestral. É também sobre pertencimento, sobre respeitar o que veio antes. E, principalmente, sobre perceber que as festas populares contam muito mais sobre nós do que parece.


É fácil dançar ao som de um forró eletrônico. Difícil é reconhecer que o triângulo, a zabumba e a sanfona têm uma linguagem própria que precisa ser preservada. É bonito ver quadrilhas com coreografias elaboradas. Mas mais bonito ainda é saber que essa dança já foi oração, teatro popular, resistência contra o apagamento cultural.


Estamos perdendo o fio da meada porque deixamos de contar de onde viemos. E um povo que não sabe sua origem dança no escuro — não importa o quanto brilhem as luzes da festa.


Se queremos um futuro onde a cultura continue sendo ponte e não produto, precisamos resgatar o saber da história. Ensinar nossas crianças e jovens que fé e festa podem caminhar juntas, mas precisam de clareza. O sagrado não se opõe à alegria. O que ele exige é consciência.


O São João é nosso. Mas ele é nosso porque é coletivo, é histórico, é construído por camadas de fé, luta e beleza. E quem carrega o saber, carrega a chama que não pode se apagar.


Essa matéria é um convite: celebre, dance, sorria — mas saiba por quê conhecimento não tira a alegria. Dá sentido a ela.


Imagem: Internet

Por: Jornalista Nilson Carvalho

 


1 comentário


Mestre Alemão Senzala Brasil
23 de jun.

São João de há muito tempo..paçoca, pipoca, vinho quente, quentão, pinhão, mandioca frita, quadrilha, banca do derruba latas, banca de pesca do peixinho e banca do tira barbas da bruxa. Rosto pintado com carvão ou rolha de litro no fogo...correio elegante, salada de frutas e arrasta pé...

Olha a chuva...

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