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“Quando o luxo educa e o povo desaprende: o abismo entre a escola mais cara do Brasil e o futuro de milhões de crianças”

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À beira da Marginal Pinheiros, em uma das regiões mais valorizadas de São Paulo, ergue-se um símbolo da elite: a Avenues São Paulo, considerada pela Forbes a escola mais cara do Brasil. Projetada com primor pelo escritório Aflalo/Gasperini Arquitetos, a instituição foi concebida a partir de um retrofit meticuloso de um antigo prédio corporativo. A missão: criar uma escola para poucos, mas que se vende como o futuro da educação.

 

A infraestrutura impressiona. Salas com paredes de vidro, estúdios de gravação, laboratórios de ponta, ambientes projetados para fluidez de pensamento, movimento e criação. A escola, que cobra mensalidades que ultrapassam R$ 15 mil, forma cidadãos globais. Seus alunos aprendem com os melhores materiais, professores de elite e um currículo bilíngue voltado para o mundo.

 

Mas, ao atravessar a ponte sobre o rio Pinheiros, a realidade se quebra como o vidro das janelas panorâmicas da Avenues. Do outro lado da cidade – ou a poucos quilômetros dali – milhares de crianças estudam em salas superlotadas, sem ventiladores, sem papel higiênico, sem livros atualizados, sem acesso à internet. Algumas, sequer têm prédio: assistem aulas em galpões improvisados ou containers.

 

O privilégio tem CEP. O esquecimento, também.

A questão aqui não é o mérito arquitetônico, nem a legitimidade de um projeto inovador. É sobre perspectiva e prioridades. A educação no Brasil está marcada por uma desigualdade estrutural cruel, que faz com que o futuro de uma criança dependa diretamente do berço em que nasceu – e do prédio em que estuda.

 

A escola mais cara do Brasil é um retrato sofisticado do que poderíamos ser, mas ainda não somos. Porque o verdadeiro luxo da educação deveria ser garantido para todos, e não tratado como um benefício privado.

 

Não há democracia sólida onde o ensino de qualidade é privilégio de quem pode pagar. A educação precisa deixar de ser um serviço de boutique e passar a ser um direito inviolável.

 

Enquanto uns estudam entre paredes de vidro, outros tentam sonhar entre paredes mofadas. Qual dessas escolas reflete o país que estamos construindo?

 

Educação não deveria ser um luxo. Deveria ser o alicerce.

 

 Compartilhe. Reflita. Lute por um país onde a escola pública também tenha arquitetura para sonhar.

 

Foto: Pedro Mascaro/Divulgação

Texto: Nilson Carvalho – Jornalismo com alma, por justiça e dignidade.

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