"Quando o Amor Vira Prisão: o Silêncio Que Matou Raissa"
- Nilson Carvalho

- 9 de jun.
- 2 min de leitura

Era para ser o início de uma nova vida.
Com 23 anos e um sorriso que carregava a luz de quem sonha grande, Raissa Suellen Ferreira da Silva se despedia das amigas dentro de um carro, rumo a um novo trabalho, novos planos, outro destino. O vídeo da despedida ficou como o último registro de uma jovem que jamais chegou ao seu próximo capítulo.
Raissa era natural de Paulo Afonso, na Bahia, e como tantas jovens negras do interior nordestino, carregava no peito o peso da superação e o brilho da esperança. Ela venceu barreiras, conquistou o título de Miss Serra Branca Teen 2020, e foi à luta — com dignidade, com força, com vontade de viver.
Mas no dia 2 de junho, seu caminho foi brutalmente interrompido.
Nesta segunda-feira (9), Marcelo Alves, humorista e amigo de infância, confessou à polícia que assassinou Raissa. A motivação? Uma suposta paixão não correspondida. O instrumento? Uma abraçadeira plástica. O desfecho? Um corpo enterrado às pressas em uma área de mata em Araucária, na Grande Curitiba.
Um feminicídio, ainda que a palavra não tenha sido dita em voz alta.
Quando a rejeição é tratada como ofensa, e o machismo vira sentença de morte
Marcelo conhecia Raissa desde pequena. Ele a treinou em projetos sociais na Bahia, dividiu vivências, cultivou laços com a família. A relação era de confiança. Mas para Marcelo, o afeto virou obsessão. E o “não” de Raissa foi entendido como provocação.
A justiça revela agora mais uma face da tragédia anunciada: a da posse emocional travestida de amizade, do controle disfarçado de cuidado, da masculinidade tóxica que se sente autorizada a matar quando não tem o que quer.
Quantas Raissas mais terão seus sonhos enterrados sob a desculpa do “amor”?
O Brasil é o país onde ser mulher é estar em constante vigilância
Nosso país lidera rankings de feminicídio na América Latina. A cada 6 horas, uma mulher é assassinada por alguém que dizia amá-la. Raissa é mais um nome que entra para esta estatística dolorosa. Mas ela não pode ser apenas mais um número.
Ela era beleza, juventude, fé, futuro. Ela tinha direito ao “não”. Direito à autonomia. Direito à vida.
O silêncio também mata
Raissa confiava em Marcelo. Mas ele calou sua voz. Enterrou seu corpo. E expôs um crime que é mais comum do que imaginamos: o feminicídio praticado por quem se esconde atrás da máscara da amizade.
Precisamos ensinar aos nossos filhos que amor não é posse. Que desejo não é direito. Que rejeição não é humilhação. E que mulher nenhuma nasceu para ser troféu, alívio, objeto ou válvula de escape.
"O amor que exige obediência, mata. A amizade que silencia a liberdade, mata. O silêncio diante da violência, também mata. Que a história de Raissa não acabe enterrada — que ela seja um grito de alerta para todas nós. Compartilhe. Porque calar é permitir que o próximo 'não' seja fatal."
Raissa Suellen, presente.
Foto: Internet
Por: Jornalista Nilson Carvalho, Embaixador dos Direitos humanos







Esse tipo de crime ja se tornou comum em todas as esferas sociais, a sociedade esta psicologicamente doente, e precisando de ajuda!