Quando a Memória Desaba: O Silêncio dos Casarões e o Grito da Nossa História
- Nilson Carvalho

- 26 de jun.
- 2 min de leitura

POR NILSON CARVALHO Jornalista, Embaixador da Cultura e dos Direitos Humanos
Em Salvador, cidade onde cada esquina respira cultura e cada pedra do calçamento ecoa séculos de resistência, a memória ameaça desabar – literalmente.
Nos bairros históricos do Santo Antônio Além do Carmo e do Comércio, casarões tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) estão ruindo diante da inércia e do abandono. Ruas interditadas, estruturas corroídas pelo tempo, incêndios, demolições e um silêncio oficial que pesa tanto quanto os escombros.
Na rua dos Perdões, um casarão que já havia pegado fogo em fevereiro voltou a ser notícia: parte de sua estrutura desabou no domingo, dia 22, e mais uma vez, moradores vivem o drama da insegurança e da impotência. Nesta quinta-feira (26), parte do imóvel será demolida, autorizada pelo próprio Iphan, após nova vistoria que constatou risco iminente de desabamento. O que se ergueu como símbolo de identidade hoje é tratado como entulho.
No bairro do Comércio, a situação não é diferente. A rua Pinto Martins está interditada há mais de três meses por conta de outro casarão em risco. A Justiça Federal determinou a elaboração de um plano de recuperação. A União, o Iphan e o proprietário foram responsabilizados — mas até agora, nenhuma ação concreta foi iniciada. A rua permanece fechada, enquanto a negligência se alastra feito mofo pelas paredes da nossa história.
O que está realmente desabando?
Essa não é apenas uma questão de infraestrutura ou segurança urbana. Trata-se da desvalorização da nossa memória coletiva, da falta de políticas públicas efetivas para a preservação do patrimônio histórico e da ausência de diálogo entre as esferas governamentais. Quando um casarão desaba, desaba junto uma parte do nosso pertencimento, da nossa identidade como povo, da nossa dignidade como sociedade.
É preciso lembrar que o patrimônio não é apenas físico, é emocional, é cultural, é humano. A cidade que deixa cair seus marcos históricos, em silêncio, está decretando o colapso de seu próprio futuro.
Até quando vamos aceitar que a memória do povo negro, da cultura popular e da arquitetura colonial seja reduzida a escombros?
A omissão é um desrespeito não só ao passado, mas às gerações futuras. A cada estrutura demolida, a cidade sangra por dentro — e o que deveria ser cuidado com reverência, vira ruína.
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"Se a história desaba, quem nos sustenta? Quando a memória é esquecida, a identidade se apaga."
Não deixe o tempo levar o que o descaso já destrói.
Foto: Internet







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