Ponte Dom Pedro II: o descarrilamento que expôs o abandono e o risco de uma tragédia anunciada

Por Nilson Carvalho – Jornalista e Ativista Social

Na manhã desta terça-feira (22), um trem descarrilou na histórica Ponte Dom Pedro II, que liga as cidades de Cachoeira e São Félix, no Recôncavo Baiano. O acidente, ocorrido por volta das 9h, foi provocado por um desnível causado por concreto na entrada da ponte. Embora não haja registro de feridos, o episódio acende um alerta gravíssimo: a ponte, tombada pelo Iphan, está em condições precárias e há muito tempo carrega o risco de uma tragédia maior.

Segundo informações da Defesa Civil, o tráfego intenso teria empurrado o concreto recém-aplicado para os trilhos, provocando o descarrilamento. A linha férrea é administrada pela empresa VLI, que interditou o tráfego ferroviário e recomendou que moradores usem a BR-101 para deslocamento entre os municípios.

Mas o problema vai muito além de um erro técnico ou um acidente isolado. Há anos, a estrutura da ponte apresenta ferrugem, peças soltas e deterioração avançada, colocando em risco pedestres, motoristas e, agora, passageiros e trabalhadores da ferrovia. Em maio, a própria Defesa Civil de Cachoeira alertou sobre a situação crítica. Em janeiro de 2023, a Prefeitura anunciou uma restauração que até hoje não foi concluída.

Estamos falando de um patrimônio histórico, cultural e econômico vital para a região, mas também de uma rota diária de trabalhadores, estudantes e moradores, que seguem expostos a um risco silencioso. Quantos avisos ainda serão ignorados? Será preciso uma tragédia de proporções irreparáveis para que as autoridades finalmente ajam com a urgência necessária?

Este descarrilamento não é apenas um acidente ferroviário. É o retrato da negligência histórica com o Recôncavo Baiano, com seu povo e com sua memória.

 “Quando o abandono corrói o patrimônio, ele corrói também a dignidade de quem depende dele. Não espere uma tragédia para exigir cuidado. Leia, compartilhe e reflita: quem vai assumir a responsabilidade?”

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