"Não Aceitamos Ser Rotulados: A Verdade da Aldeia Hippie Vai Muito Além das Manchetes Sensacionalistas"
- Nilson Carvalho
- há 12 horas
- 2 min de leitura

Por Nilson Carvalho – Jornalista, Embaixador da Cultura e dos Direitos Humanos
A Aldeia Hippie de Arembepe clama por respeito.
Não somos cúmplices. Não somos coniventes. Não somos criminosos. Somos pais, mães, artesãos, agricultores, educadores e defensores da liberdade que vivem há décadas em um território sagrado, símbolo de resistência cultural e vida alternativa no Brasil. A manchete que nos rotula como "Paraíso do Tráfico” é, no mínimo, leviana. É mais uma punhalada contra uma comunidade que luta todos os dias para sobreviver entre a beleza da natureza e o abandono do poder público.
A Aldeia Hippie de Arembepe não nasceu da violência — ela nasceu da paz. Criada nos anos 60 por jovens idealistas e artistas do mundo inteiro, a aldeia se tornou um ícone de vida sustentável, criatividade, espiritualidade e simplicidade. Recebeu Janis Joplin, Mick Jagger, Gilberto Gil e milhares de visitantes do Brasil e do mundo. Mas o que acontece quando o Estado vira as costas, quando não há política pública, nem segurança, nem investimento em cultura e turismo?
O vazio deixado pela ausência do Estado é ocupado pela força bruta. O que deveria ser protegido virou alvo da criminalidade. Mas isso não nos torna cúmplices — isso nos faz vítimas.
A dor de quem vive e resiste aqui
Quem mora na Aldeia, vive do artesanato, do turismo e da arte. Mas há anos estamos sendo sufocados pelo medo, pela perda do turismo e pela estigmatização. Ao invés de apoio, recebemos acusações. Ao invés de escuta, recebemos julgamentos. Muitos moradores, inclusive, foram coagidos pelo tráfico e precisaram sair. E agora, em vez de solidariedade, o que chega até nós é um rótulo cruel: "refúgio de criminosos". Essa generalização é desumana e injusta.
Não somos um “paraíso do tráfico”. Somos sobreviventes. Somos resistência.
As forças de segurança têm sim que agir. E que ajam com rigor contra quem comete crimes, mas sem criminalizar uma comunidade inteira, sem apagar a história e a cultura que aqui existem há mais de meio século. Não podemos aceitar que uma narrativa violenta anule a nossa verdade.
Sim, há facções em disputa. Sim, há mortes, e isso precisa ser investigado, enfrentado e combatido. Mas há também vida, memória, história e dignidade aqui. A imprensa tem o dever de informar, mas também tem a responsabilidade ética de não generalizar, de ouvir todas as vozes — sobretudo as que estão sendo silenciadas.
Indignação não é omissão — é coragem de dizer a verdade.
Nós, que vivemos em Arembepe e na Aldeia, não aceitamos ser rotulados. E não aceitamos que a dor de nossas famílias, o luto por jovens assassinados, a perda de nosso sustento e a destruição de nossa imagem pública sejam tratados como produto de entretenimento ou moeda política.
“Quando a mídia rotula, o povo resiste com verdade. Que a sua voz não seja o eco da injustiça, mas o grito por dignidade.”
Compartilhe. Reflita. Defenda.
Foto: Galeria Nilson Carvalho
Comments