Irmandade da Boa Morte: séculos de luta, resistência e liberdade em Cachoeira
- Nilson Carvalho

- 16 de ago.
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Por Nilson Carvalho — Jornalista, ativista social, Embaixador dos Direitos Humanos e Cultural
Antes do tradicional cortejo desta sexta-feira (15), em Cachoeira, no Recôncavo baiano, a Irmandade da Boa Morte recebeu o título de Promotora da Igualdade Racial, concedido pelo governo federal. Uma homenagem que vai muito além de um reconhecimento oficial: é o tributo à coragem, à resistência e à busca por dignidade que atravessa gerações.
Criada no século XVII em Salvador e posteriormente transferida para Cachoeira, a Irmandade é conduzida exclusivamente por mulheres negras — atualmente 48 integrantes — que, ao longo dos séculos, lutaram para garantir uma partida digna às pessoas vulneráveis e para manter viva a mensagem de liberdade e respeito à vida.
“É o nosso reconhecimento de uma alforria. Isso começou com nossos ancestrais escravizados. Pessoas escravizadas não tinham direito a uma morte digna, eram jogadas em valas, de qualquer jeito, para os bichos destruírem. Nossa luta sempre foi por dignidade e liberdade”, relata a provedora deste ano, Irmã Neci Santos Leite, há 17 anos na Irmandade.
O poder transformador da Irmandade não se limita ao sagrado: é social, cultural e histórico. Durante a cerimônia, Dona Dalva, sambista tradicional de Cachoeira, recebeu o Prêmio do Ministério da Cultura, e o Terreiro Ilê Axé Icimimó foi oficialmente tombado pelo Iphan, fortalecendo políticas de preservação cultural e valorização do empreendedorismo negro.
A Festa da Boa Morte, que começou na última quarta-feira (13) e segue até domingo (17), é um mosaico de resistência e celebração: sambas de roda, missas, procissões e espaços de empreendedorismo negro mostram que a cultura é também arma de transformação social.
Autoridades como a primeira-dama Janja da Silva, e as ministras Margareth Menezes (Cultura) e Anielle Franco (Igualdade Racial) foram homenageadas, reconhecendo seu compromisso com políticas que valorizam a cultura e os direitos humanos.
Como destacou a ministra Margareth Menezes:
“A Festa da Boa Morte resgata histórias, entrega liberdade e fortalece uma comunidade de mulheres defendendo os direitos humanos. É uma história muito comovente, que nos lembra que a cultura salva vidas e transforma sociedades.”
"Quando celebramos a liberdade, a resistência e a cultura, estamos também defendendo o futuro de nossas crianças, o orgulho de nosso povo e a dignidade de toda a sociedade. Compartilhe esta história, reflita e faça parte dessa transformação."
Foto: Internet







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