Enquanto o Agro Exibe sua Riqueza, o Outro Lado da Bahia Clama por Dignidade
- Dimas Carvalho

- 8 de jun.
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Luís Eduardo Magalhães, Oeste baiano — Sob o brilho das luzes de LED, drones sobrevoando estandes gigantescos e promessas de um “agro inteligente e sustentável”, começa mais uma edição da Bahia Farm Show 2025. É a maior feira agrícola do Norte-Nordeste, símbolo do poderio ruralista que movimenta bilhões e projeta a Bahia no mapa global do agronegócio.
Porém, para além das cercas elétricas e das áreas climatizadas com máquinas bilionárias, há uma Bahia que não foi convidada para essa festa: a Bahia das mãos calejadas que plantam, mas não colhem justiça social; das comunidades rurais onde a água é luxo e a terra é promessa quebrada; da agricultura familiar invisibilizada por um sistema que favorece o lucro acima da vida.
A “Sustentabilidade” que Exclui
A feira deste ano traz o lema “Agro Inteligente, Futuro Sustentável”, mas não se vê nos corredores climatizados a presença dos povos indígenas, dos quilombolas, nem dos pequenos produtores expulsos de suas terras por grileiros e empreiteiras. Não se discute a concentração fundiária, a devastação do Cerrado, nem a violência crescente no campo.
Nos municípios vizinhos, escolas funcionam precariamente, postos de saúde vivem em colapso e comunidades ribeirinhas são esquecidas enquanto multinacionais e grandes fazendeiros exibem maquinários que custam mais do que o orçamento anual de cidades inteiras. Para muitos, o “futuro sustentável” prometido é apenas mais um agronegócio sem povo e sem alma.
Tecnologia e Segurança para quem?
Com 434 empresas e marcas internacionais, a BFS 2025 oferece estacionamento para 7 mil veículos, cobertura por câmeras de alta definição e policiamento especializado. Uma estrutura digna de uma cidade-modelo. Mas nas zonas rurais da própria região oeste da Bahia, muitas comunidades sequer têm energia elétrica estável, acesso à internet ou patrulhamento básico.
Enquanto um produtor pode contratar crédito multimilionário com apoio do BNDES, famílias inteiras seguem sendo despejadas por falta de regularização fundiária. O fosso social entre o agronegócio e a agricultura familiar cresce — e a feira, apesar de seu potencial transformador, pouco faz para mudar essa realidade.
Agro é Negócio, Mas Também é Gente
A Bahia Farm Show tem força. Poderia ser uma vitrine de inclusão, inovação social e justiça ambiental. Mas ano após ano, se firma como um palco de vaidade corporativa, onde o pequeno produtor só entra para posar na foto, não para influenciar decisões.
É preciso lembrar: agricultura não é apenas produtividade — é cultura, é território, é direito.
Se o campo alimenta a cidade, quem alimenta o campo de justiça?
O futuro só será sustentável quando for também humano.
Foto: Divulgação BFS / Reprodução Internet
Por: Dimas Carvalho – Escritor, Palestrante e Ativista Social.







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