Drones israelenses em Salvador: vigilância aérea, segurança ou controle social?
- Nilson Carvalho

- 10 de jul.
- 2 min de leitura

Por Nilson Carvalho – Jornalista, ativista social e Embaixador dos Direitos Humanos
Em tempos de crescente insegurança e sensação de abandono por parte do poder público, a Prefeitura de Salvador anuncia um projeto arrojado: a implementação de drones israelenses para reforçar o sistema de videomonitoramento da cidade. A iniciativa, embora cercada de tecnologia de ponta, levanta dúvidas, reflexões profundas e a urgente necessidade de se pensar: estamos caminhando para uma cidade mais segura ou para uma sociedade mais vigiada?
O avanço tecnológico sob a ótica da segurança pública
O projeto prevê o uso de drones com tecnologia israelense — os mesmos utilizados em operações militares e de inteligência no exterior — para sobrevoar inicialmente o Centro Histórico, Barra, Itapuã e o Rio Vermelho. Integrados ao novo Centro de Controle Operacional (CCO), em construção na Avenida Suburbana, esses equipamentos prometem “agilidade, mobilidade e eficácia” no combate à criminalidade, sobretudo em grandes eventos ou áreas com histórico de violência.
Em paralelo, será ampliada a malha de câmeras inteligentes com reconhecimento facial, totalizando 5 mil unidades espalhadas por Salvador — muitas delas oriundas de residências, comércios e condomínios, em um modelo de integração voluntária entre o público e o privado.
A inspiração vem do projeto Smart Sampa, em São Paulo, onde mais de 2.700 prisões em flagrante e a localização de desaparecidos foram atribuídas ao sistema de videomonitoramento com inteligência artificial.
Entre a promessa de proteção e o risco da vigilância excessiva
É inegável que a violência urbana exige ações firmes e inovadoras. No entanto, quando a tecnologia se antecipa ao debate ético e à participação popular, surgem preocupações legítimas: quem controla quem? Qual a garantia de que esses equipamentos não serão usados para vigiar a população pobre e periférica, ao invés de protegê-la? Como serão tratados os dados coletados? Haverá auditoria independente?
Em um país ainda marcado por desigualdades sociais, racismo estrutural e criminalização da pobreza, a simples ampliação da vigilância não é suficiente para resolver o problema da segurança pública — que tem raízes muito mais profundas: falta de acesso à educação, saúde, saneamento, cultura e oportunidades.
A medida não pode ser vendida como panaceia, enquanto o Estado continua ausente nas comunidades que mais sofrem com o crime e a violência. Sem investimento humano, políticas públicas eficazes e respeito aos direitos civis, qualquer tecnologia pode se tornar uma ferramenta de opressão.
Transparência, diálogo e escuta social são indispensáveis
O valor do projeto experimental chega a R$ 1,6 milhão. Um investimento considerável, que precisa vir acompanhado de garantias jurídicas, controle social, transparência nos contratos e fiscalização rigorosa por parte dos órgãos competentes. Também é preciso escutar a população — sobretudo nas comunidades onde a presença da polícia é mais temida do que celebrada.
A tecnologia não deve substituir o cuidado humano, nem o diálogo com os territórios. Antes de sobrevoar as ruas com drones, o poder público precisa caminhar nelas — com políticas públicas, justiça social e dignidade.
Reflexão final
A segurança pública não se constrói apenas com câmeras e vigilância, mas com respeito, inclusão, empatia e coragem para enfrentar as verdadeiras causas da violência.
Leia, compartilhe e reflita:
Estamos construindo cidades mais seguras ou muros invisíveis que nos afastam uns dos outros?
Foto: Internet







Tecnologias sempre nos surpreendem quando da sua concepção. No início, nem sempre mostram toda sua potencialidade. Mas assim que se mostram efetivas, normalmente centros militares as aperfeiçoam e as indicam para defesas. Parece que foi assim com o avião e mais recentemente com os drones também.
Que os governos tenham cada vez mais consciência e usem as inovações tecnológicas para defesa e para o bem. Nem sempre o filme acaba como imaginamos.