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Drones israelenses em Salvador: vigilância aérea, segurança ou controle social?

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Por Nilson Carvalho – Jornalista, ativista social e Embaixador dos Direitos Humanos

Em tempos de crescente insegurança e sensação de abandono por parte do poder público, a Prefeitura de Salvador anuncia um projeto arrojado: a implementação de drones israelenses para reforçar o sistema de videomonitoramento da cidade. A iniciativa, embora cercada de tecnologia de ponta, levanta dúvidas, reflexões profundas e a urgente necessidade de se pensar: estamos caminhando para uma cidade mais segura ou para uma sociedade mais vigiada?

 

O avanço tecnológico sob a ótica da segurança pública

 

O projeto prevê o uso de drones com tecnologia israelense — os mesmos utilizados em operações militares e de inteligência no exterior — para sobrevoar inicialmente o Centro Histórico, Barra, Itapuã e o Rio Vermelho. Integrados ao novo Centro de Controle Operacional (CCO), em construção na Avenida Suburbana, esses equipamentos prometem “agilidade, mobilidade e eficácia” no combate à criminalidade, sobretudo em grandes eventos ou áreas com histórico de violência.

 

Em paralelo, será ampliada a malha de câmeras inteligentes com reconhecimento facial, totalizando 5 mil unidades espalhadas por Salvador — muitas delas oriundas de residências, comércios e condomínios, em um modelo de integração voluntária entre o público e o privado.

 

A inspiração vem do projeto Smart Sampa, em São Paulo, onde mais de 2.700 prisões em flagrante e a localização de desaparecidos foram atribuídas ao sistema de videomonitoramento com inteligência artificial.

 

Entre a promessa de proteção e o risco da vigilância excessiva

É inegável que a violência urbana exige ações firmes e inovadoras. No entanto, quando a tecnologia se antecipa ao debate ético e à participação popular, surgem preocupações legítimas: quem controla quem? Qual a garantia de que esses equipamentos não serão usados para vigiar a população pobre e periférica, ao invés de protegê-la? Como serão tratados os dados coletados? Haverá auditoria independente?

 

Em um país ainda marcado por desigualdades sociais, racismo estrutural e criminalização da pobreza, a simples ampliação da vigilância não é suficiente para resolver o problema da segurança pública — que tem raízes muito mais profundas: falta de acesso à educação, saúde, saneamento, cultura e oportunidades.

 

A medida não pode ser vendida como panaceia, enquanto o Estado continua ausente nas comunidades que mais sofrem com o crime e a violência. Sem investimento humano, políticas públicas eficazes e respeito aos direitos civis, qualquer tecnologia pode se tornar uma ferramenta de opressão.

 

Transparência, diálogo e escuta social são indispensáveis

O valor do projeto experimental chega a R$ 1,6 milhão. Um investimento considerável, que precisa vir acompanhado de garantias jurídicas, controle social, transparência nos contratos e fiscalização rigorosa por parte dos órgãos competentes. Também é preciso escutar a população — sobretudo nas comunidades onde a presença da polícia é mais temida do que celebrada.

 

A tecnologia não deve substituir o cuidado humano, nem o diálogo com os territórios. Antes de sobrevoar as ruas com drones, o poder público precisa caminhar nelas — com políticas públicas, justiça social e dignidade.

 

Reflexão final

A segurança pública não se constrói apenas com câmeras e vigilância, mas com respeito, inclusão, empatia e coragem para enfrentar as verdadeiras causas da violência.

 

Leia, compartilhe e reflita:

Estamos construindo cidades mais seguras ou muros invisíveis que nos afastam uns dos outros?


Foto: Internet

1 comentário


Mestre Alemão Senzala Brasil
10 de jul.

Tecnologias sempre nos surpreendem quando da sua concepção. No início, nem sempre mostram toda sua potencialidade. Mas assim que se mostram efetivas, normalmente centros militares as aperfeiçoam e as indicam para defesas. Parece que foi assim com o avião e mais recentemente com os drones também.

Que os governos tenham cada vez mais consciência e usem as inovações tecnológicas para defesa e para o bem. Nem sempre o filme acaba como imaginamos.

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