“BONECAS QUE QUEBRAM O SILÊNCIO: A REVOLUÇÃO NEGRA QUE ESTÁ TRANSFORMANDO SALAS DE AULA NA BAHIA”
- Nilson Carvalho

- há 5 horas
- 2 min de leitura

Por: Nilson Carvalho – Papo de Artista Bahia
Quando uma criança não se enxerga no brinquedo que segura, na história que escuta ou no livro que lê, nasce um vazio que o tempo não apaga. É o tipo de ferida silenciosa que a sociedade insiste em naturalizar.
Mas agora, um projeto ousado, emocionante e profundamente necessário está mostrando que representatividade não é luxo: é sobrevivência, identidade e libertação.
É assim que surge o Projeto Bonecas Negras, uma iniciativa que vai muito além de confeccionar brinquedos — ele devolve às meninas e mulheres negras o direito de existir, de serem vistas e celebradas. Um gesto simples, mas carregado de potência, capaz de mudar a forma como crianças aprendem, se enxergam e se reconhecem no mundo.
De boneca a símbolo de resistência
O projeto reúne quase 40 nomes de mulheres negras que fizeram — e ainda fazem — história, mas que o sistema tentou calar:
Tereza de Benguela, Jaqueline Góes, Beatriz Souza, Luislinda Valois, Grada Kilomba, Chiquinha Gonzaga, Rebeca Andrade…
Uma verdadeira constelação de ancestralidade, força e genialidade.
Idealizado pela historiadora e educadora Daniela Torres, o projeto nasceu de uma inquietação profunda:
“As crianças negras estavam crescendo sem se ver representadas. As mulheres negras não faziam parte das narrativas oficiais”, conta Daniela.
E foi dessa dor coletiva que ela decidiu transformar a História em ferramenta de cura.
Criadas pelos alunos, guiadas pela ancestralidade
Os alunos do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Villa Global Education mergulharam numa jornada de pesquisa, criação e sensibilidade.
Eles estudaram a vida dessas mulheres, seus cabelos, traços, pele, expressões e até a realidade histórica de cada época — dos séculos 18 e 19 até os dias de hoje.
A cada boneca criada, não nascia apenas um brinquedo…
Nascia uma biografia em 3D, viva, tocável, que rompe com a ditadura da beleza e com o racismo estrutural que sufoca gerações.
Depois de prontas, elas são expostas na mostra “Mulheres Excluídas das Narrativas da História”, aberta ao público.
E em dezembro, seguem para seu destino mais lindo: escolas quilombolas da Rota da Liberdade, em Cachoeira.
Lá, serão ferramentas pedagógicas nas mãos de professores que ensinarão não só História, mas também autoestima racial.
Muito mais que doação — é reparação
Daniela deixa claro:
“Isso não é caridade. A boneca é um livro 3D que conta a história de uma mulher negra.”
O projeto inclui intercâmbio:
➡️ alunos do Villa aprendem a realidade dos quilombos
➡️ educadoras quilombolas recebem as bonecas e ensinam sua história, seu território e sua cultura
É troca.
É empatia.
É Brasil real olhando no olho.
Uma revolução que não para mais
Todos os anos, novas mulheres são escolhidas.
Porque ainda existem muitas histórias apagadas.
E cada boneca criada é uma resposta firme ao racismo que tentou silenciar essas vozes.
Este projeto não entrega apenas bonecas.
Ele entrega dignidade.
Ele entrega memória.
Ele entrega futuro.
“Se a escola não mostra quem somos, nós mostramos. Compartilhe essa luta!”
Foto: Internet







Comentários