Rock, política e censura velada: o show que expôs a tensão entre cultura e conservadorismo na Bahia
- Nilson Carvalho
- há 9 horas
- 2 min de leitura

Mudança de local após pressão bolsonarista reacende debate sobre liberdade artística, financiamento público e a guerra cultural no Brasi
Em um país marcado por feridas políticas ainda abertas, a cultura mais uma vez vira campo de batalha. O caso da banda Bozokill, que viu seu show em Salvador ser remanejado às pressas após críticas de bolsonaristas, escancara muito mais do que um simples impasse musical — revela o peso do medo, a força da repressão e a fragilidade da liberdade de expressão em tempos polarizados.
Marcado para acontecer neste domingo no tradicional Largo Tereza Batista, no Pelourinho, o show foi transferido para uma casa de eventos privada após uma avalanche de ataques nas redes sociais e uma representação judicial do deputado estadual Diego Castro (PL-BA). O parlamentar acusou o governo da Bahia de financiar uma banda “antidireita” por meio de um suposto apoio institucional ao evento, estampado inicialmente em um cartaz com o logo estadual.
A banda Bozokill, conhecida por letras ácidas como “Dá para desapertar o 17?”, “Mate um minion hoje” e “Não queira Bolsonaro não”, passou a ser o novo alvo da cruzada conservadora que, ironicamente, exige censura enquanto brada por liberdade. Castro afirma que o nome da banda insinua apologia à morte de Bolsonaro, embora não apresente provas de que qualquer verba pública tenha de fato sido destinada ao grupo.
A resposta do governador Jerônimo Rodrigues (PT), que recentemente gerou polêmica ao dizer que bolsonaristas deveriam ser levados “para a vala”, apenas inflamou ainda mais os ânimos. O pedido de desculpas veio tarde demais: o estrago já estava feito. A oposição encontrou combustível para mover ações no STF e na PGR, acusando o governador de incitar ódio e perseguir conservadores.
Mas a pergunta que fica ecoando é: onde termina a crítica e começa a censura?
O episódio é sintomático de um Brasil que ainda não sabe conviver com o contraditório. Em um tempo em que artistas são calados e palcos se tornam trincheiras ideológicas, cabe à população refletir: quem está decidindo o que você pode ouvir, assistir e pensar?
Esse embate expõe muito mais do que divergências partidárias — ele mostra como a cultura, muitas vezes, é a primeira vítima de uma sociedade dividida. Mas também revela uma oportunidade: a de defender a arte como espaço de liberdade, questionamento e resistência, mesmo quando ela incomoda.
É hora de escolher: vamos ceder ao medo ou proteger o direito de expressar?
Compartilhe esta matéria com quem ainda acredita que a cultura deve ser livre — não domesticada pela ideologia.
Foto: Internet
Por: Dimas Carvalho – Escritor e Palestrante.

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