“Quando o Frio Não É Só o Clima: A Outra Face do Inverno na Bahia”

Por Nilson Carvalho – Jornalista, Artista Plástico e Embaixador dos Direitos Humanos

Os ventos frios que tocam a Bahia nesta temporada não carregam apenas o prenúncio do inverno, que oficialmente se inicia em 20 de junho. Eles trazem consigo um lembrete cortante: nem todos têm um cobertor, um teto ou sequer uma janela para fechar.

A recente onda de instabilidade climática e temperaturas atípicas que atravessa o estado, especialmente nas regiões mais elevadas como Lençóis, Piatã e Vitória da Conquista, tem movimentado conversas sobre o tempo e os festejos juninos. Mas há um silêncio gelado que insiste em não ser quebrado: o da população em situação de rua, o das famílias que vivem em casas de lona, o das crianças que tremem à sombra da desigualdade.

Enquanto prefeituras anunciam programações culturais para aquecer a alma das festas de São João, milhares de baianos seguem invisíveis diante da queda nos termômetros. Em cidades como Barra, a diferença entre a mínima e a máxima chega a 14ºC em apenas um dia. No corpo de quem vive sem dignidade, essa diferença é uma sentença. O frio não perdoa a pobreza.

O clima virou pauta. Mas quem pauta a urgência de garantir cobertores, sopas quentes e acolhimento?

Nas manchetes, falamos sobre o avanço das massas de ar polar e a dança dos ventos. Mas nos bastidores da Bahia profunda, há corpos que dormem no chão molhado, há idosos que tremem em barracos de papelão, há mães que improvisam calor com amor — porque a estrutura falhou.

A previsão diz que o frio volta na última semana de junho. E a pergunta que deveria aquecer o coração das autoridades e da sociedade é: o que estamos fazendo para impedir que esse frio mate?

Este não é apenas um boletim meteorológico. É um chamado à empatia, à ação e à responsabilidade coletiva.

"O frio do clima a gente sente, mas o frio da indiferença a gente permite. Que aqueçamos mais do que nossos corpos — aqueçamos nossa humanidade."

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