PIX AUTOMÁTICO: FACILIDADE DIGITAL OU CONTROLE SILENCIOSO?

Nova função promete agilidade, mas exige atenção e consciência social

A partir de segunda-feira (16), entra em vigor no Brasil o PIX Automático, um novo recurso do Banco Central que promete revolucionar o pagamento de contas recorrentes, como luz, água, internet, mensalidades e assinaturas. A novidade, prática e moderna, chega como alternativa aos antigos débitos automáticos e boletos, oferecendo mais agilidade para consumidores e empresas.

Na teoria, é um avanço. Na prática, exige atenção. Especialmente dos mais vulneráveis.

O funcionamento é simples: o consumidor recebe uma solicitação da empresa no aplicativo do banco. Ao autorizar, os débitos acontecem automaticamente todo mês — sem a necessidade de repetir a operação. Cancelar? Pode. Mas será que todos saberão como?

É aí que mora o alerta.

Vivemos num país com milhões de pessoas em situação de analfabetismo funcional e exclusão digital. Nem todos sabem como funcionam as engrenagens de um sistema bancário automatizado. Muitos idosos, pessoas de baixa renda e trabalhadores informais podem ser induzidos a autorizações sem plena consciência do impacto nos seus orçamentos apertados. O que para alguns é comodidade, para outros pode se tornar uma armadilha silenciosa de endividamento.

É importante lembrar que facilitar não deve significar pressionar. Automatizar não pode significar desumanizar.

A tecnologia só será verdadeiramente inclusiva quando andar de mãos dadas com a educação financeira, transparência e acesso justo à informação. Até lá, cada "sim" digital precisa ser dado com olhos abertos e consciência ativa.

Avançar é preciso. Mas cuidar de quem pode ficar para trás é urgente.

Compartilhe. A modernidade deve servir à dignidade, e não ao contrário.

Foto: Internet

Por Nilson Carvalho – Jornalista, Artista Plástico e Embaixador da Paz e dos Direitos Humanos