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O Gelo da Indiferença: Onda de Frio Atinge o Brasil e Expõe a Crueldade das Ruas


Por Nilson Carvalho – Jornalista, Embaixador da Cultura e dos Direitos Humanos

 

Entre mapas meteorológicos e boletins técnicos, uma notícia vem se repetindo com frequência assustadora: uma nova onda de frio está prestes a atingir nove estados brasileiros entre os dias 30 de junho e 4 de julho. Temperaturas devem cair até 5°C abaixo da média, especialmente no Sul, Centro-Oeste e parte da região Norte do país, incluindo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre, Rondônia e sul do Amazonas.

 

Mas por trás dos dados e gráficos está uma tragédia humana silenciosa, que quase sempre passa despercebida: a do frio que mata. Não o frio das previsões — mas o frio da indiferença, da falta de políticas públicas, do abandono dos que mais precisam, especialmente os moradores de rua, os idosos em extrema pobreza, e os que vivem em habitações precárias, sem aquecimento, sem cobertor e sem visibilidade social.

 

Enquanto a meteorologia nos alerta sobre a queda das temperaturas, quem alerta sobre as vidas que se perdem todas as noites nas calçadas das grandes cidades? Quem responde pela criança que adoece numa palafita no Acre? Pela mãe que compartilha um único cobertor com três filhos numa ocupação em Cuiabá? Pelo idoso que dorme em um banco de praça em Porto Alegre, ignorado por quem passa com pressa?

 

Em um país com mais de 220 mil pessoas em situação de rua, segundo levantamento recente do Ipea, cada nova onda de frio não é apenas um desafio climático — é um teste moral. Teste que o Brasil vem fracassando ano após ano, ao ignorar os mais vulneráveis em nome da “normalização” da pobreza.

 

A quarta onda de frio de 2025 é, sim, um fenômeno natural. Mas o abandono crônico da população vulnerável é um fenômeno social — e cruelmente planejado pela inércia das políticas públicas. Falta abrigo. Falta estrutura. Falta empatia. Mas sobretudo, falta decisão política para transformar um boletim meteorológico em um alerta humanitário.

 

O frio não escolhe vítimas, mas o descaso sim. Que cada vento gelado nos lembre: onde houver um corpo tremendo de frio, há uma sociedade que falhou. Compartilhe.

Foto: Internet

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