
Pertencimento - A morte da turista paulista, vítima do desabamento da cobertura artística do forro da igreja de São Francisco, em Salvador, é alerta radical que não deveria acontecer. Em Camaçari, o exemplo mais significativo desse abandono com o patrimônio artístico e cultural é a Igreja do Espírito Santo. Coração de um sítio histórico que antecede a chegada dos portugueses ao Brasil, com história fortalecida a partir de 1558, com os padres jesuítas, templo precisa de urgente restauro e um olhar mais amplo sobre seu entorno.
Pertencimento 2 Graças à incúria da Igreja Católica, sempre de mãos dadas com os poderes públicos municipal, estadual e federal, esse patrimônio só faz diminuir. Listada entre as mais antigas do Brasil, igreja do Divino foi construída no século 17 (meados de 1600), e tombada pelo município em 2021. O convento anexo ao templo terminou completamente demolido nos anos 1960, levando com os escombros uma parte significativa da história do Brasil, de Camaçari e sua importância na luta pela Independência da Bahia.
Pertencimento 3 Movimento de apagamento da memória de Camaçari teve seu último capítulo com a reforma promovida pelas gestões do alcaide Antonio Elinaldo (União), entre 2017 e 2024. Financiada por dinheiro internacional da Corporação Andina de Fomento (CAF), que não cumpriu sua função de fiscalizar, projeto de requalificação da praça da Matriz foi coordenado pela secretaria de infraestrutura. Com o aval do chefe, a secretária Joselene Cardin ignorou completamente a legislação, os questionamentos da imprensa e o apelo de historiadores, como o professor Diego Copque e de pesquisadores como José Fernando, morador e figura referência de Abrantes.
Pertencimento 4 O resultado foi a ampliação da destruição da praça da Matriz, antigo ´quadrado` e primeiro aldeamento com registros de mais de 400 anos de história da região ocupada pelos índios tupinambás, colonos portugueses e africanos escravizados. Sem resgatar e destacar as referências do seu importante passado, como a construção de um museu, ou até um memorial, a antiga gestão sequer promoveu um amplo debate com a comunidade sobre a importância histórica da região. Miopia avança e se amplia com a falta de um projeto mais amplo com o resgate e proteção do entorno da centenária igreja.
Pertencimento 5 Agora, com o município sob nova direção, a população e a história esperam do alcaide Luiz Caetano (PT), que tanto alardeia os apoios do governador e do presidente Lula, um projeto robusto de recuperação e resgate desse importante pedaço da história de Camaçari, da Bahia e do Brasil.
Pertencimento 6 Desafios não faltam para o alcaide Caetano-04, que nada fez para proteger o patrimônio da cidade nos seus três governos anteriores (1986/1988, 2005/2012). Histórico nesse quesito é amplo, geral e irrestrito, com zero de ações do seu sucessor e aliado, e igual descompromisso de seus antecessores adversários.
Pertencimento 7 Ampliar essa caminhada não será missão fácil para a nova secretaria de cultura, que logo nos primeiros dias de gestão visitou e prometeu reforma total da Cidade do Saber. Criada pelo petista, a CDS foi festejada nos dois últimos governo de Caetano como joia e farol de um novo tempo.
Pertencimento 8 Nessa agenda obrigatória de referências históricas, os destaques no coração da sede do município são o antigo cinema e o casarão centenário. Morada do poderoso João Francisco da Costa e da família do desembargador Montenegro, imóvel também foi sede dos três poderes. Mesmo com esse histórico, foi demolido no governo Elinaldo para dar lugar a um projeto fake até hoje inacabado. Fúria da marreta, quando o correto era recuperar as fachadas e estruturas originais dos dois imóveis, foi liderada pela então titular da Secult, Marcia Tude, filha do ex-vice e três vezes alcaide do município, José Tude. Equívoco só não atingiu a antiga estação de trens por se tratar de bem privado.
Pertencimento 9 A real situação do novo cineteatro, com construção e inauguração prometidas desde o governo passado, e a destinação do prédio vizinho, fantasiado de arquivo público, é agenda urgente para a nova titular da Secult. Completam essa pauta inadiável da doutora Elci, visitas técnicas às localidades de Cordoaria e Parafuso, só para ficar nessas referências mais urgentes de patrimônio material e imaterial.
Pertencimento 10 Nesse conjunto de demandas urgentes que precisam ser referências numa gestão que promete ´virar a chave`, a construção desse novo momento precisa ser transversal e envolver outras secretarias e o Conselho Municipal de Cultura de Camaçari. Se quiser mudar, vai precisar deixar o CCMC funcionar sem a tutela da Secult. Distante da sua real função fiscalizadora e formuladora, o apenas homologatório CCMC precisa voltar a se reunir. Com mandato até agosto, a atual composição do colegiado, formado por representantes da sociedade organizada e governo, precisa entrar nesse debate sobre patrimônio, cultura popular e sentimento de pertencimento.
Reportagem completa no link abaixo:
João Leite Filho joaoleite01@gmail.com – Editor
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