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Luiz Duplat no Colunistas:A cidade e o respeito à vida depois dos 60

Foto do escritor: Nilson CarvalhoNilson Carvalho

Luiz Duplat é médico obstetra, especialista em Saúde da Família e ex-secretário de saúde de Camaçari

 

Envelhecimento Ativo: Um Direito ou Um Privilégio?

 

 

A boa prática da medicina atual exige que os profissionais de saúde, conscientizem a população da importância da promoção a saúde e da prevenção de doenças. Bernardino Ramazzini (1633-1714) médico italiano, Pai da Medicina do Trabalho, já afirmava que “melhor prevenir, que remediar”. Inclusive, a nossa Constituição Federal, no seu Artigo 196 diz: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

 

 

Várias ações desenvolvidas ao longo dos anos, pela Saúde Coletiva, como saneamento básico, programa de vacinação, e a estratégia saúde da família (PSF), vem provocando um aumento da expectativa de vida da população, que segundo o IBGE em 1940 era de 45,5 anos, e hoje no Brasil é de 76,4 anos. Camaçari, segundo o IBGE – 2022, possui 32.718 pessoas acima de 60 anos, que representa quase 11% do total da sua população e metade destas pessoas estão cadastradas no Programa Bolsa Família, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social.

 

 

Mas, vamos refletir, o importante é “ter dias com vida e não dias de vida”, portanto um envelhecimento ativo é essencial, entretanto, muitas pessoas idosas enfrentam dificuldades, principalmente econômicas, para manter um estilo de vida saudável, com uma alimentação adequada, praticando atividades físicas, realizando atividades culturais e de lazer, além da dificuldade de acesso aos serviços de saúde.

 

 

Tive um professor na faculdade, ao qual já peço desculpas por não lembrar o nome (posso culpar a COVID), que dizia que “Quanto mais açougue e quitandas, menos farmácia teremos”. Uma alimentação equilibrada é essencial para prevenir doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e obesidade, no entanto, a alta dos preços dos alimentos saudáveis torna essa recomendação difícil de ser seguida por uma grande parcela da população idosa. Frutas, verduras, proteínas magras e cereais integrais frequentemente possuem preços elevados em comparação com produtos ultraprocessados, ricos em açúcares e gorduras prejudiciais.

 

 

Para aposentados do INSS e beneficiários do BPC-LOAS, que vivem com renda limitada, a escolha alimentar pode ser baseada mais no preço do que no valor nutricional. Portanto, programas de segurança alimentar e políticas públicas de incentivo ao acesso a alimentos saudáveis são fundamentais para garantir que as pessoas idosas tenham uma nutrição adequada.

 

 

Implantação de mercados populares, feiras livres, programas de distribuição de cestas básicas e iniciativas que promovam hortas comunitárias, sob orientação e fiscalização de nutricionistas, médicos veterinários e engenheiros agrônomos, são exemplos de medidas que podem auxiliar nesse cenário, e seguir a recomendação dos nutricionistas para “descascar mais, e desembalar menos” os nossos alimentos.

 

 

Atividade Física: Entre a Necessidade e a Falta de Recursos Outra recomendação que os profissionais de saúde fazem aos seus pacientes é para realizarem atividades físicas (a OMS preconiza 20 a 25 minutos por dia), para manter a mobilidade, a força muscular e a saúde mental. Atividades como caminhadas, hidroginástica, dança, musculação e pilates são algumas das opções recomendadas para as pessoas idosas. No entanto, o acesso a espaços adequados, como academias, clubes e centros esportivos, muitas vezes tem um custo elevado, inviabilizando a participação de grande parte dessas pessoas.

 

 

Além disso, a falta de infraestrutura pública para a prática de exercícios, como praças bem equipadas e programas gratuitos de atividade física, sob orientação de um educador físico ou fisioterapeuta, dificulta a adoção dessa recomendação. Camaçari dispõe apenas de 2 academias da saúde (Ponto Certo e Arembepe) e poucas praças com equipamentos apropriados para realização de atividade física – Academia ao Ar Livre. Muitas pessoas idosas enfrentam problemas de locomoção e ausência de transporte acessível para frequentar locais onde poderiam se exercitar.

 

 

Outro fator que pode impedir a prática de atividades físicas é o custo elevado de equipamentos e vestimentas adequadas. Tênis apropriados, que proporcionam conforto e evitam lesões, costumam ter preços elevados, assim como roupas adequadas para a prática esportiva, que oferecem melhor mobilidade e proteção térmica.

 

 

Várias pessoas tentam a recomendação de realizar atividades físicas, e nas ruas da cidade encontramos várias delas, no início da manhã ou no final da tarde, nas praças e avenidas, com trajes e calçados inadequados para esta atividade, pois não proporcionam conforto e segurança para a pessoa. Para pessoas idosas com orçamento menor que as despesas, esses itens muitas vezes se tornam inacessíveis, limitando ainda mais a adoção de um estilo de vida saudável.

 

 

Além da alimentação e da atividade física, outros fatores impactam diretamente a qualidade de vida da pessoa idosa. O acesso a serviços de saúde com profissionais capacitados no seu atendimento, a rede de apoio e suporte social e a participação em atividades culturais e de lazer são essenciais para um envelhecimento ativo. Iniciativas que promovam a valorização da pessoa idosa, o fortalecimento da atenção primária à saúde e a criação de redes de apoio comunitário são fundamentais para garantir um envelhecimento mais saudável e ativo.

 

 

O envelhecimento ativo deve ser visto como um direito de todos e não um privilégio de poucos. Para que isso seja uma realidade, é necessário o envolvimento do poder público, da sociedade civil e da iniciativa privada na criação de estratégias que garantam acesso a uma alimentação saudável, espaços para a prática de atividades físicas e serviços de saúde acessíveis. Somente assim será possível garantir que a pessoa idosa tenha mais dias de vida com qualidade, dignidade e bem-estar, enfim dias com vida.

 

 

Luiz Duplat duplat.luiz@hotmail.com é médico obstetra, especialista em saúde da família e ex-secretário de saúde de Camaçari

 

Reportagem completa no link abaixo:


 

Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor

 

 

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