Enquanto a Bahia Dança, a Dor Espera: O Clamor Silencioso de Quem Suplica por Saúde em Meio aos Milhões do São João
- Dimas Carvalho

- 27 de jun.
- 2 min de leitura

Por: Dimas Carvalho – Colunista do Jornal Papo de Artista Bahia e Ativista Social.
No compasso do forró que ecoa pelos arraiais da Bahia, há uma melodia que não se ouve — mas que grita nos corredores abafados dos hospitais públicos.
Entre os fogos, os shows milionários e a festa que movimenta a cultura e a economia, existe uma mulher de 67 anos, internada há 13 dias com uma fissura no ombro, esperando, em silêncio, por uma cirurgia que não chega.
O nome dela é Júlia Amorim Cerqueira, e sua história, embora comovente, está longe de ser exceção. Ela representa as milhares de vozes que não têm microfone, não têm palco, não têm regulação.
Quando a espera adoece mais do que a queda
Júlia caiu dentro de casa. Fraturou o ombro. Foi levada ao Hospital Geral do Estado da Bahia (HGE), onde foi internada no dia 15 de junho. Desde então, aguarda a realização de um procedimento ortopédico essencial para sua recuperação.
Mas o tempo passa. A dor permanece. E a família não recebe respostas.
Enquanto a festa de São João movimenta milhões, a cama de Júlia segue ocupada por uma espera que já virou angústia, cansaço, indignação.
Entre o palco e o abandono
Não se trata de negar a importância das festas juninas, nem de apagar a relevância da cultura. Mas é preciso fazer uma pergunta que grita por consciência:
vale a pena investir milhões em shows, enquanto vidas frágeis são deixadas de lado em macas cobertas por lençóis de silêncio?
A saúde pública deveria ser prioridade, não pano de fundo. E o caso de Dona Júlia escancara uma realidade vergonhosa: o desprezo pelo sofrimento de quem não tem acesso a planos de saúde, mas carrega o peso de uma vida inteira de contribuição e dignidade.
Uma vida invisível, uma espera desumana
Dona Júlia tem hipertensão. Tem artrose. Tem família que clama por respostas.
Mas o que ela não tem é previsão para sua cirurgia.
Pior: ela viu outra paciente, internada depois, ser operada antes.
Isso não é medicina. Isso é loteria de dor.
É a desumanização do cuidado. É a institucionalização do descaso.
Saúde não pode ser regulada pelo silêncio
A Secretaria de Saúde do Estado foi procurada, mas, até agora, o silêncio respondeu por ela. E esse silêncio é cúmplice. Porque cada dia a mais que Júlia espera, é um direito a menos que a Bahia respeita.
A saúde de um povo não pode ser sacrificada em nome de uma festa.
É possível celebrar e cuidar. Investir em cultura e priorizar a vida.
Mas enquanto isso não for regra — seguiremos dançando sobre o abandono.
Para refletir e compartilhar:
"O maior espetáculo de uma sociedade justa não está no palco — está na dignidade com que ela trata quem mais precisa."
Dona Júlia é o retrato da espera que muitos vivem calados. Que essa história sirva de alerta, não de estatística.
Foto: Internet







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