DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA SOCIAL "O Berço da Dor: Ser Mãe na Nigéria é Lutar Pela Própria Vida"
- Dimas Carvalho
- 8 de jun.
- 2 min de leitura

Ela pariu a morte. E sobreviveu.
Nafisa Salahu, uma jovem nigeriana de 24 anos, sobreviveu a um parto de três dias, em um hospital sem médicos, durante uma greve na Nigéria. O bebê não teve a mesma sorte. Morreu ali, entre o desespero e a negligência, como outros 75 mil bebês e mães todos os anos. Ela vive hoje com uma ferida que nenhum bisturi fechará: a de ter sido deixada sozinha num momento que deveria ser sagrado.
Ela não é exceção. Ela é o retrato cruel da regra.
A Nigéria, maior economia da África, é hoje o pior país do mundo para se estar grávida. Uma mulher morre em trabalho de parto a cada sete minutos. São mais de 200 mortes por dia. Quase sempre, por causas evitáveis: hemorragias, pressão alta, parto obstruído, falta de sangue. Falta de tudo.
Enquanto líderes políticos discursam sobre progresso, mulheres morrem sangrando sozinhas em corredores vazios. Hospitais sem médicos. Centros de saúde sem energia elétrica. Ambulâncias que nunca chegam. E, mais devastador ainda, políticas públicas que esquecem que a vida começa no ventre — e termina na omissão.
Chinenye Nweze, 36 anos, também não voltou para casa. Morreu por falta de sangue. O irmão, Henry, relembra o pânico, a impotência. O corpo dela virou estatística. A dor, não.
O parto na Nigéria não é um ato de amor. É um campo de batalha.
É a evidência brutal de como os corpos femininos continuam sendo palco de descaso, especialmente os corpos pretos, pobres, e invisíveis. No norte do país, crenças tradicionais afastam mulheres dos hospitais. No sul, o colapso do sistema público obriga famílias a escolher entre pagar por um parto ou comer no mês seguinte. E no meio disso tudo, o Estado segue falhando — alocando apenas 5% do orçamento em saúde, ignorando o compromisso internacional de investir 15%.
Mais que números, são nomes. Vidas. Laços interrompidos. Berços vazios. Famílias dilaceradas. Gerações marcadas pela ausência.
E mesmo assim, mulheres como Nafisa continuam voltando aos hospitais. Não porque confiam — mas porque não têm escolha. Parir na Nigéria é carregar no ventre o amor e no peito o medo. É saber que gerar uma nova vida pode custar a sua.
É urgente um despertar global.
A Nigéria precisa mais do que solidariedade: precisa de investimento em saúde, de compromissos reais, de pressão internacional, e de uma sociedade civil que levante a voz por quem não tem mais forças para gritar.
Porque nenhuma mulher deve morrer para dar a vida.
"Parir não deveria ser sentença. Toda mulher merece nascer viva com seu filho nos braços — e não enterrá-lo com o útero ainda sangrando."
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Foto: Internet
Por: Dimas Carvalho – Escritor, Palestrante e Ativista Social.
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