“Da Bahia para o Mundo: O Saber dos Terreiros Cruza o Atlântico e Leva a Filosofia Africana ao Doutorado Internacional”
- Nilson Carvalho

- 7 de out.
- 3 min de leitura

Por: Jornalista Nilson Carvalho, Embaixador dos Direitos Humanos e da Cultura, Defensor do Patrimônio Histórico e Cultural Brasileiro
Babalorixá e pesquisador João Borges de Oxalá é o único baiano selecionado pela UNEB para representar o Brasil em doutorado na Nigéria — um marco histórico que une fé, ancestralidade e ciência em defesa do conhecimento afro-brasileiro.
A Bahia acaba de conquistar mais um capítulo histórico no campo da educação e da cultura afro-brasileira. O Babalorixá e pesquisador João Teixeira Borges, conhecido como Pai João Borges de Oxalá, foi o único selecionado pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) para participar de um doutorado sanduíche na Lagos State University (LASU), na Nigéria — o berço da civilização iorubá e das tradições que moldaram boa parte da identidade do povo baiano.
A viagem, marcada para o dia 8 de outubro de 2025, acontece pelo Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE), da CAPES, e tem como objetivo fortalecer os laços entre o Brasil e a África em torno da valorização dos saberes de terreiro — uma herança que resiste, ensina e inspira.
Um novo olhar sobre o conhecimento ancestral
Doutorando em Difusão do Conhecimento pelo PPGDC/UNEB, João Borges desenvolverá sua pesquisa sob a orientação do renomado PhD Julius Tayo, uma das maiores referências mundiais em filosofia africana.
O tema, intitulado “Ilê Asé: Faculdade de Filosofia Africana no Brasil”, vai investigar como os terreiros — espaços de fé, convivência e resistência — são também escolas de sabedoria, filosofia e ciência popular.
Criador do Método Egun, o pesquisador propõe uma abordagem inovadora que mistura provérbios iorubás, narrativas ancestrais e práticas rituais como instrumentos de pesquisa.
“Estamos mostrando que o conhecimento não está apenas nos livros, mas também nos corpos, nas tradições e nas histórias do nosso povo”, afirma Pai João.
De Camaçari para o mundo: um orgulho baiano
Servidor público da Prefeitura de Camaçari desde 2005, João Borges leva consigo não só o nome da UNEB, mas também o da Bahia, que sempre foi o coração pulsante da cultura afrodescendente no Brasil.
Sua pesquisa promete gerar impactos reais — políticas públicas mais inclusivas, preservação do patrimônio imaterial e fortalecimento das comunidades tradicionais.
Mais do que uma conquista pessoal, essa é uma vitória coletiva: de todos que lutam por respeito, reconhecimento e valorização da ancestralidade.
Cooperação internacional: pontes de futuro
O projeto prevê acordos entre a UNEB e a Lagos State University para intercâmbio de estudantes e pesquisadores, além da criação de um programa de doutorado em Estudos Africanos.
As tratativas se estendem também ao campo econômico, com possíveis parcerias entre o Polo Industrial de Camaçari e empresas nigerianas, visando projetos de energia limpa e responsabilidade social voltados às comunidades tradicionais.
“Esta missão vai além da academia. Estamos construindo pontes concretas entre a Bahia e a Nigéria que beneficiarão comunidades, universidades e o setor produtivo”, ressalta Pai João.
O professor Julius Tayo reforça: “A pesquisa de João abre novas fronteiras do conhecimento e aproxima a filosofia africana da realidade brasileira”.
Bahia: berço da resistência e da sabedoria
Com essa iniciativa, a Bahia reafirma seu papel de vanguarda na integração entre saberes ancestrais e produção científica moderna, consolidando-se como referência mundial em pensamento afro-brasileiro.
Mais do que um intercâmbio acadêmico, essa jornada representa o reencontro de dois povos que compartilham a mesma raiz e a mesma força espiritual.
“Quando um filho da Bahia atravessa o oceano levando os saberes do terreiro, não é apenas um doutor que nasce — é a ancestralidade que renasce em cada canto do mundo.”
Foto: Jornalista Nilson Carvalho
Da entrevista no Papo de Artista Bahia 14/09/2022
Compartilhe essa conquista! A história de Pai João Borges é a história de todos nós — de um povo que resiste, ensina e transforma o conhecimento em libertação.







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