COSTA DE CAMAÇARI: O DIREITO À DIGNIDADE VIAJA EM PÉ E APERTADO EM UMA “LATA DE SARDINHA”

Por Nilson Carvalho – Jornalista, Embaixador da Paz e dos Direitos Humanos

Enquanto discursos políticos ecoam prometendo progresso, a realidade cruel da mobilidade na Costa de Camaçari expõe o abandono do básico: o respeito à vida. Depois de diversas denúncias, enfrentei pessoalmente o transporte da linha branca e confirmei o que moradores sofrem todos os dias.

Não há ônibus suficientes. Quando aparecem, cumprem horários engessados que ignoram emergências. Se alguém passar mal? Que espere. Se perder um compromisso vital? Que aceite. E quando não resta alternativa, as pessoas se amontoam nas vans da linha branca — verdadeiras “latas de sardinha” que transportam mais seres humanos do que deveriam, sem segurança, sem conforto e sem dignidade.

Da passarela de Arembepe até o destino, viajei em pé, espremido entre olhares cansados. “O importante é o dinheiro, não o bem-estar dos usuários”, murmurou um passageiro, enquanto a van sacolejava perigosamente. Dona Isabel, aposentada, confidenciou: “Hoje está bom, pior é quando eles correm como se quisessem voar.” Já Maria Carla, resignada, desabafou: “Minha vida toda foi assim, só melhoram quando tem eleição ou festa.”

Paulo, pedreiro, indignado, resumiu: “Vergonha! Uma cidade rica, com o povo sendo tratado como carga.” E dona Rosa, com voz embargada, fez uma prece silenciosa: “Todo dia peço a Deus para sair e voltar viva.”

Não existe fiscalização. Não há planejamento. E a sensação é de que estamos esperando uma tragédia para, só então, tomar providências. Até quando? Quantas vidas precisam ser colocadas em risco para que a dignidade humana seja prioridade?

Porque transporte não é favor, é direito.

Compartilhe e reflita: se aceitarmos viajar como carga, jamais seremos tratados como cidadãos.

Estaremos de olho nesta situação, cobrando respeito e dignidade para cada cidadão que depende desse transporte todos os dias.

Foto: Internet