O resultado do segundo turno em Camaçari sinalizou uma cidade dividida. Embora Caetano tenha conquistado a vitória, o número apertado de votos deixa claro que as expectativas da população são altas e as exigências sobre sua gestão serão imensas. O slogan de campanha, "Caetano vai virar a chave", despertou esperanças, mas também precisa ser interpretado com cuidado, especialmente diante do contexto político da região metropolitana, onde o PT perdeu espaço em todos os municípios vizinhos. Nesse cenário, o novo prefeito enfrentará o desafio de responder a promessas ousadas e questionáveis, como a oferta de ônibus elétricos gratuitos e a regularização dos ligeirinhos, sem perder o apoio necessário para governar.
Contexto Político e Governabilidade em Risco
É importante lembrar que, dos 23 vereadores eleitos, apenas 8 pertencem ao grupo de Caetano. O grupo opositor soma 15 cadeiras e, com isso, controla a maioria. Esse quadro coloca o novo prefeito em uma posição delicada: sem articulação e concessão de espaço, ele não terá governabilidade plena. A divisão do legislativo é um reflexo direto da polarização que tomou Camaçari, e para “virar a chave” com eficiência, Caetano terá que dialogar e ceder, especialmente se quiser garantir a aprovação de projetos essenciais.
Para contornar essa falta de maioria, é provável que Caetano abra espaço a políticos de outras regiões da metropolitana, onde o PT foi derrotado, utilizando Camaçari como uma plataforma para reconstituir apoio. Mas essa estratégia pode gerar atritos internos, já que muitos que dedicaram tempo e esforço à campanha em Camaçari esperam, legitimamente, uma posição na futura gestão. Assim, a pressão interna pode tornar a administração mais difícil e menos eficiente, limitando o cumprimento de promessas feitas durante a campanha.
Promessas Vazias: Transporte e Viabilidade Econômica
Entre as promessas que mais chamaram a atenção durante a campanha, destaca-se a oferta de transporte público gratuito por meio de ônibus elétricos, um investimento elevado que exige infraestrutura complexa e alto custo de manutenção. Além disso, Caetano prometeu a legalização dos ligeirinhos, vans que atualmente suprem a necessidade de mobilidade em várias áreas do município. Aqui surge uma questão crucial: se o transporte público será gratuito, qual será a fonte de rendimento para os ligeirinhos? E como essa regulamentação será implementada sem afetar os trabalhadores que hoje vivem do transporte alternativo?
A implementação de transporte público gratuito sem uma estrutura clara de financiamento coloca em risco não apenas a promessa feita aos eleitores, mas também o orçamento da cidade. Esse tipo de promessa, quando analisado com profundidade, parece insustentável sem que haja um aumento de tributos ou um corte significativo em outros setores. O slogan "virar a chave" corre o risco de se transformar em uma política vazia, que não dialoga com as reais necessidades da população.
Desafios da Gestão e o Papel da Oposição
Para quem apoiou o grupo opositor, fica claro que a responsabilidade de fiscalizar a gestão de Caetano e cobrar compromissos é mais importante do que nunca. Com uma administração que já começa com promessas questionáveis e necessidade de apoio externo, a oposição em Camaçari tem uma função estratégica de proteger os interesses do município, garantindo que os interesses da população não sejam sacrificados para atender alianças externas.
No cenário atual, é crucial que a cidade se mantenha atenta, cobrando transparência e fiscalizando cada passo da nova gestão. A composição do legislativo permitirá à oposição impedir qualquer projeto que não esteja alinhado com as reais demandas dos cidadãos, reafirmando a importância de um diálogo aberto e contínuo entre gestão e sociedade.
Reflexão Final
A vitória de Caetano, embora legítima, exige uma gestão inteligente, capaz de dialogar e de responder à realidade de Camaçari com soluções práticas e executáveis. "Virar a chave" não é apenas um slogan; é um compromisso com a população e uma responsabilidade que agora pesa sobre os ombros de quem prometeu mudanças em uma cidade dividida. E, diante desse cenário político, surge a questão: haverá “cópias de chave” suficientes para aqueles que acreditaram no projeto e para a população de Camaçari? Ou as alianças externas e os compromissos políticos irão esvaziar as promessas de espaço e representatividade local? Somente uma administração transparente e coerente poderá garantir que essa chave seja, de fato, um instrumento de transformação e não apenas um símbolo vazio.
Foto: J.P.A.B.
Texto: Pr. Ivo Leandro – Colunista do J.P.A.B.
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