Caruru e Vatapá: muito além do prato, um grito de fé, cultura e identidade na Bahia

Setembro chega e, junto com ele, o cheiro do dendê, do amendoim, do quiabo e da partilha. Não existe esquina na Bahia onde não ecoe essa tradição: caruru e vatapá não são apenas comidas, são memórias, são fé, são identidade de um povo que aprendeu a resistir com sabor e espiritualidade.

Essa herança atravessou séculos. Dos santos católicos São Cosme e Damião aos orixás gêmeos Ibeji, a mesa se tornou altar, e a partilha virou ato de devoção e ancestralidade. No tempo da Colônia, os católicos faziam promessas aos santos pedindo saúde; já no Candomblé, os Ibejis eram reverenciados com comidas sagradas. O encontro desses mundos criou algo único: o caruru como símbolo de agradecimento, promessa e união.

Mas não é só religião. É também resistência cultural. Quando a Bahia serve um prato de caruru ou vatapá, ela reafirma sua raiz africana, sua história de luta contra a opressão e a tentativa de apagamento da identidade do povo negro. É mais do que sabor, é um grito silencioso de quem mantém viva a memória de seus ancestrais.

E tem mais: a tradição de servir primeiro a sete meninos mostra o quanto essa cultura valoriza a infância, a inocência e a esperança de um futuro melhor. Compartilhar a comida é um gesto revolucionário de amor e solidariedade, porque ninguém come sozinho, ninguém fica de fora.

Caruru e vatapá em setembro não são luxo, não são moda: são parte do nosso patrimônio cultural imaterial, que precisa ser respeitado, preservado e valorizado. Porque quando uma comunidade se reúne em torno da comida, ela se fortalece contra a exclusão e o esquecimento.

E você? Já parou para pensar que cada colherada é também um ato político, espiritual e social?

Comida é cultura, é fé e é resistência. Vamos valorizar, respeitar e compartilhar essa herança que nos faz Bahia!

Por: Jornalista Nilson Carvalho, Embaixador dos Direitos Humanos e da Cultura, Defensor do Patrimônio Histórico e Cultural Brasileiro

Foto: Internet