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Brasil em Risco: As Montanhas de Rejeito que Crescem Sem Regras e Ameaçam Silenciosamente Vidas e Territórios

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Por: Dimas Carvalho – Colunista do Jornal Papo de Artista Bahia e Ativista Social.


De Mariana a Brumadinho, o Brasil já chorou demais por desastres que poderiam ter sido evitados.

A dor não secou. Apenas mudou de forma — e agora cresce em silêncio, em formato de pilhas.

 

Desde a proibição das barragens a montante em 2019, após as tragédias que mataram quase 300 pessoas, a mineração brasileira migrou para uma nova prática: o armazenamento de rejeitos em pilhas secas, montanhas de resíduos que podem ultrapassar 80 metros de altura. A justificativa é clara — risco “menor” do que as barragens. Mas o que acontece quando não há nenhuma regulamentação federal para fiscalizar essa nova prática?

 

A resposta está no povoado de Casquilho de Cima, em Conceição do Pará (MG), onde, em 7 de dezembro de 2024, uma dessas pilhas se rompeu. O deslizamento atingiu sete casas e deixou mais de 250 pessoas desalojadas. Quatro meses depois, ninguém pôde voltar para casa.

 

A confeiteira Lexandra Machado viu a tragédia se formar diante dos olhos. “Comecei a gritar. Lembrei de Brumadinho. A gente não acredita até ver a terra vindo como onda por cima de tudo.” O trauma se renova. O medo reaparece. E as promessas de fiscalização seguem no futuro — só em 2026 o governo federal prevê regras para a prática.

 

Enquanto isso, a paisagem muda. Não são mais rios de lama, mas montanhas de rejeito que se acumulam, sem protocolo, sem controle, sem garantia alguma de segurança.

 

Segundo dados da própria Vale, 70% dos rejeitos que antes iam para barragens agora estão sendo empilhados. Na Samarco, esse número chega a 80%. Os rejeitos — resíduos sem valor comercial — agora se acumulam secos, mas nem por isso inofensivos. São pilhas de instabilidade, formadas por areia, cascalho e poeira mineral, crescendo próximas a comunidades sem o mínimo plano de contingência.

 

O Brasil troca o modelo, mas mantém o descaso. Não há estudo de impacto, nem monitoramento rigoroso. E, como sempre, quem paga o preço são os mais pobres, os que moram perto, os que vivem da terra e acreditam que ela ainda lhes pertence.

 

Quantas vezes será preciso repetir o luto coletivo até aprendermos que prevenir custa menos do que reconstruir a dignidade perdida?

 

É preciso frear esse modelo que prioriza a produção e posterga a proteção. A cada deslizamento, não desaba apenas o solo — desaba a fé da população na justiça, no poder público e na possibilidade de viver com segurança.

 

Porque se até as montanhas agora desabam sobre o povo… o que mais falta acontecer na Bahia?

 

Compartilhe. Reflita. Onde não há regra, a tragédia cava espaço com as próprias mãos.


Foto: Internet

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