Brasil em Risco: As Montanhas de Rejeito que Crescem Sem Regras e Ameaçam Silenciosamente Vidas e Territórios
- Dimas Carvalho

- 6 de jul.
- 2 min de leitura

Por: Dimas Carvalho – Colunista do Jornal Papo de Artista Bahia e Ativista Social.
De Mariana a Brumadinho, o Brasil já chorou demais por desastres que poderiam ter sido evitados.
A dor não secou. Apenas mudou de forma — e agora cresce em silêncio, em formato de pilhas.
Desde a proibição das barragens a montante em 2019, após as tragédias que mataram quase 300 pessoas, a mineração brasileira migrou para uma nova prática: o armazenamento de rejeitos em pilhas secas, montanhas de resíduos que podem ultrapassar 80 metros de altura. A justificativa é clara — risco “menor” do que as barragens. Mas o que acontece quando não há nenhuma regulamentação federal para fiscalizar essa nova prática?
A resposta está no povoado de Casquilho de Cima, em Conceição do Pará (MG), onde, em 7 de dezembro de 2024, uma dessas pilhas se rompeu. O deslizamento atingiu sete casas e deixou mais de 250 pessoas desalojadas. Quatro meses depois, ninguém pôde voltar para casa.
A confeiteira Lexandra Machado viu a tragédia se formar diante dos olhos. “Comecei a gritar. Lembrei de Brumadinho. A gente não acredita até ver a terra vindo como onda por cima de tudo.” O trauma se renova. O medo reaparece. E as promessas de fiscalização seguem no futuro — só em 2026 o governo federal prevê regras para a prática.
Enquanto isso, a paisagem muda. Não são mais rios de lama, mas montanhas de rejeito que se acumulam, sem protocolo, sem controle, sem garantia alguma de segurança.
Segundo dados da própria Vale, 70% dos rejeitos que antes iam para barragens agora estão sendo empilhados. Na Samarco, esse número chega a 80%. Os rejeitos — resíduos sem valor comercial — agora se acumulam secos, mas nem por isso inofensivos. São pilhas de instabilidade, formadas por areia, cascalho e poeira mineral, crescendo próximas a comunidades sem o mínimo plano de contingência.
O Brasil troca o modelo, mas mantém o descaso. Não há estudo de impacto, nem monitoramento rigoroso. E, como sempre, quem paga o preço são os mais pobres, os que moram perto, os que vivem da terra e acreditam que ela ainda lhes pertence.
Quantas vezes será preciso repetir o luto coletivo até aprendermos que prevenir custa menos do que reconstruir a dignidade perdida?
É preciso frear esse modelo que prioriza a produção e posterga a proteção. A cada deslizamento, não desaba apenas o solo — desaba a fé da população na justiça, no poder público e na possibilidade de viver com segurança.
Porque se até as montanhas agora desabam sobre o povo… o que mais falta acontecer na Bahia?
Compartilhe. Reflita. Onde não há regra, a tragédia cava espaço com as próprias mãos.
Foto: Internet







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