Bahia em Alerta: Quando o Presídio Vira Palco de Regalias e Fugas
- Nilson Carvalho
- 6 de jul.
- 2 min de leitura

Por Nilson Carvalho – Jornalista, Ambientalista e Embaixador dos Direitos Humanos e da Cultura
Moqueca, acarajé e velório. Não, não estamos falando de um centro cultural, nem de uma festa de comunidade. Essas foram algumas das permissões inusitadas concedidas a detentos do Conjunto Penal de Eunápolis, sob a gestão de Joneuma Silva Neres — a ex-diretora agora presa, apontada como peça-chave na fuga cinematográfica de 16 criminosos e suspeita de envolvimento direto com o crime organizado.
Durante sua administração, o presídio se tornou cenário de absurdos dignos de um roteiro surreal: refeições gourmet com moquecas de camarão e lasanhas, festas com roda de capoeira e distribuição de acarajés no Dia da Consciência Negra, visitas íntimas nos pavilhões, caixas de som dentro das celas e até a entrada de um caixão com o corpo da avó de um detento para um "velório privado" no interior da unidade — um episódio que desafia qualquer noção de legalidade e segurança pública.
O mais grave, porém, não está nas regalias escancaradas, mas no pano de fundo de tudo isso: a ligação direta da então gestora com o líder de uma organização criminosa, Ednaldo Pereira Souza, o ‘Dada’, foragido e beneficiado pelas facilidades internas. Essa relação promíscua entre o poder carcerário e o crime estruturado rompe a linha tênue entre falha institucional e corrupção deliberada.
A denúncia do Ministério Público da Bahia, apresentada em março, reforça o tamanho da omissão e conivência. O Brasil já carrega o fardo de um sistema penitenciário falido, superlotado, violento e ineficaz na reabilitação de seus internos. Mas quando o próprio Estado passa a operar como cúmplice do crime, o risco à sociedade se multiplica.
As cenas da fuga, registradas por câmeras internas, mostram a ousadia com que os criminosos se movimentaram — usando cordas artesanais para escalar o alambrado enquanto seguranças assistiam, impotentes ou omissos. Uma fuga que custou mais do que segurança: custou a confiança da população em suas instituições.
É inaceitável que uma unidade prisional — espaço que deveria garantir a ordem, o cumprimento da pena e a segurança da sociedade — seja transformada em palco de privilégios, apadrinhamentos e estratégias do crime. A falência moral e ética dessa gestão é um atentado direto aos direitos da população de viver em segurança e justiça.
Onde estamos? Onde vamos parar? E o mais importante: quem está lucrando com o caos que nos engole por dentro?
Quando o crime assume o controle de dentro para fora, não são apenas as grades que enferrujam. É o próprio Estado que se curva. E nós, enquanto sociedade civil, imprensa, defensores dos direitos humanos, não podemos aceitar que o sistema apodreça sem resistência.
O que mais falta acontecer na Bahia?
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Foto: Internet
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