Até Quando? Quando a Fé Vira Disfarce e a Vida do Povo Vale Tão Pouco
- Nilson Carvalho

- há 3 horas
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Por: Nilson Carvalho – Papo de Artista Bahia
Mais uma vez, o Brasil acorda com uma notícia que machuca, revolta e faz sangrar a consciência coletiva. Uma jovem mulher, mãe de duas crianças, é encontrada morta, nua, presa a galhos às margens de um rio. O principal suspeito? Um homem que se apresentava como pastor e líder religioso nas redes sociais. A pergunta ecoa nas ruas, nas redes e nas mesas das famílias brasileiras: quem estamos protegendo e quem estamos descartando?
Andreson Bezerra de Carvalho, de 46 anos, foi preso suspeito de matar Ana Paula Oliveira da Silva, de apenas 23 anos, e jogar seu corpo no rio Cauamé, em Boa Vista, Roraima. O crime, segundo as investigações da Delegacia Geral de Homicídios, não foi um acaso, nem um mistério sem rastros. Câmeras, radares e imagens de monitoramento urbano desenham, passo a passo, o caminho que levou Ana Paula à morte — e o retorno solitário do suspeito.
As imagens mostram os dois juntos. Mostram a parada para comprar bebidas. Mostram a travessia da ponte. E mostram, cerca de uma hora depois, o suspeito voltando sozinho, carregando o capacete que pertencia à vítima, olhando deliberadamente para o rio onde, no dia seguinte, o corpo de Ana Paula seria encontrado. Não são suposições vazias: são fatos registrados.
Ana Paula não era apenas um nome em um boletim policial. Era mulher, mãe, filha e cidadã. Vivendo em situação de extrema vulnerabilidade social, teve sua história inicialmente distorcida, reduzida e quase apagada. Primeiro disseram que era pescadora. Depois, que era usuária de drogas. Mais tarde, veio a informação de que trabalhava como garota de programa. Mas a pergunta que precisa ser feita é simples e direta: alguma dessas condições diminui o valor da vida dela?
Não diminui. Nunca diminuiu.
O problema é que, para uma parte da sociedade, vidas vulneráveis valem menos. E isso é um retrato cruel de um sistema que falha em proteger quem mais precisa.
Quando um homem que se apresenta como “pastor” é apontado como suspeito de um crime tão brutal, não se trata de atacar a fé — trata-se de exigir responsabilidade. A fé não pode ser usada como escudo. O título religioso não pode ser salvo-conduto. E o silêncio diante da violência não pode ser normalizado.
Essa tragédia escancara feridas profundas: a violência contra a mulher, o abandono social, a hipocrisia moral e a fragilidade da proteção às pessoas em situação de vulnerabilidade. Enquanto isso, duas crianças crescem sem a mãe. Uma família foi destruída. E o povo segue perguntando: até quando?
Se esse caso gerar reflexão, cobrança, indignação e mobilização, ele pode salvar outras vidas. Mas se virar apenas mais uma manchete esquecida, estaremos todos falhando de novo.
Quando a sociedade se cala diante da violência, o próximo grito pode ser o de alguém que você ama. Compartilhe. Questione. Não se cale.
Foto: Internet







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