
Angélica Ferraz de Menezes é jornalista com larga experiência com a questão ambiental
Racismo ambiental e o mundo que desaparece na água e no fogo
E o fogo atinge mais frequentemente também os ricos redutos paraísos, outrora territórios nativos, como aconteceu neste meio de fevereiro em Camaçari....
As águas avançam sobre os paraísos colocados exclusivos à beira-mar em toda a costa brasileira.
Será que agora tomam uma atitude em relação à devastação do meio ambiente e à não adoção de uma economia verde e justa?...
As catástrofes motivadas pelas mudanças climáticas galopam bem mais rápido e com uma violência até então inimaginável, ou acontecem de forma mais clara do que conseguem antever os cientistas. Eles ainda diagnosticam uma onda de calor ou de sensação térmica muito mais intensa do que suporta o ser humano, em breves dias atuais, acima dos 37°C considerados um limite aceitável para não gerar desgaste e danos físicos. Isso enquanto uma média de uma realidade que tem se mantido constante. Caminhamos para bem mais de 40°C e sensações térmicas estimadas de 60 graus centígrados.
O racismo ambiental, negado por autoridades quando se eximem de adoção de medidas dirigidas ao enfrentamento às mudanças climáticas em conjunto pelas nações, atinge em cheio principalmente as camadas das populações pobres em condições de vida precárias jogadas à própria sorte.
O mundo ditado pelos interesses econômicos e o desigual acesso à alimentação, moradia, à água, o saneamento básico, reflete-se de forma perversa nos municípios brasileiros, cuja contaminação das águas de rios e mares, ar e solo primeiro castiga sem dó os guetos marginalizados de negros, indígenas, e dos sem poder aquisitivo vítimas mais das gestões municipais despreparadas do que propriamente dos sinistros que os fazem sucumbir.
Em Abrantes/Camaçari, Bahia, a inércia em se organizar a máquina pública para evitar a tragédia anunciada dos incêndios em áreas de preservação ao longo dos anos só favoreceu a construção civil, beneficiada pelo desmatamento e edificação em áreas cobiçadas. É preciso normatizar, ter critérios em emitir licenças, fiscalizar e dotar o município de um corpo de funcionalismo em quantidade e diversificado em atribuições para planejar e executar ações.
Este organismo inexistente a contento tem responsabilidade direta pelos incêndios em toda a costa, devastando o Parque das Dunas de Abrantes e Jauá, as dunas de Busca Vida, área contígua à poligonal do Parque, as matas ciliares de rios com direcionamento de esgotos e lixo como o Joanes e o Capivara em Arembepe.
O fogo de origem criminosa, diga-se, está também ocorrendo em áreas da costa de Jacuípe e Itacimirim. As queimadas que tanto temor causam aos moradores e afastam turistas insatisfeitos ainda com a falta de água nas torneiras em alguns momentos nos hotéis, resultam em perda de diversidade de espécies e de qualidade de vida ao acarretar graves doenças respiratórias.
Às margens dos rios são denunciadas invasões de pobres. Os projetos de habitação popular no entanto deveriam estar abertos às suas relocações dignas. Nas faixas de areia da praia foram permitidas invasões de área pública de domínio federal da Marinhabexpostas ao perigo do avanço do mar com o aumento do volume dos oceanos com águas progressivamente aquecidas. Vide as enchentes que tomaram conta de Camboriú em Santa Catarina.
Injustiça e privilégios não deveriam caber no Plano de Diretrizes e Desenvolvimento Urbano (PDDU) em Camaçari que flexibilizou a ocupação em áreas de preservação num município de terras loteadas. Em busca do equilíbrio ambiental já passou a hora de rever toda esta situação que tem se tornado insustentável dada a não delimitação física dos limites para implantação do único parque natural da grande Camaçari, onde cabem outros tantos parques ecológicos também. Os rios que se degradam necessitam dos passos firmes no caminho da sua revitalização.
Camaçari merece ter uma polícia ambiental bem delineada e consensual com apoio da Câmara Municipal a bem da sua população. Uma Secretária Municipal de Meio Ambiente bem equipada.
Angélica Ferraz de Menezes menezesangelicaferraz@gmail.com é jornalista, coordenou pelo Centro de Educação Ambiental São Bartolomeu (CEASB) o Projeto Alvorada na microrregião de Barra/São Francisco; coordenou os cursos de Meio Ambiente, Combate à Violencia/ Direitos Humanos e de Gestão Social do Centro de Formação Comunitária do Governo Federal na área do São Francisco; foi coordenadora do Projeto Memória Kirimurê da Oscip Centro de Pesquisas e Ações Socioambientais Kirimurê
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor
Reportagem completa no link abaixo:
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