Amor em Escudo: O Silêncio das Vítimas e a Violência que Arromba Portas em Camaçari
- Nilson Carvalho

- 29 de jun.
- 2 min de leitura

Por Nilson Carvalho – Jornalista, Embaixador da Cultura e dos Direitos Humanos
Era madrugada de domingo (29), quando o barulho da violência atravessou os muros de uma casa simples na Rua do Alecrim, no Jardim Brasília, em Camaçari. Tauane Fonseca Costa, 24 anos e grávida, morreu como uma heroína silenciosa. Não por escolha, mas por amor, instinto e desespero.
Três homens armados invadiram sua casa, anunciando com crueldade que vieram para matar seu companheiro. Diante do inevitável, Tauane se colocou à frente dos tiros — com o ventre, com a alma, com o corpo que carregava duas vidas. Tentou proteger, mas acabou sendo atingida mortalmente. O companheiro, mesmo socorrido, também não resistiu.
Não foi só um duplo homicídio. Foi um massacre afetivo, uma execução com testemunha nenhuma e eco de todos. Foi o assassinato de um amor, de um futuro e de uma família inteira em segundos.
A cena que os agentes do SAMU e do 12º BPM encontraram não pode ser apenas mais uma ocorrência. A Delegacia de Camaçari investiga o caso, mas quem investiga a raiz dessa barbárie? Onde estão as políticas públicas que protegem mulheres, famílias e comunidades vulneráveis ao avanço da criminalidade? Quantas casas precisarão ser invadidas até que o Estado decida entrar com dignidade, e não com viaturas apenas após o sangue no chão?
Tauane não morreu por acaso. Morreu porque a proteção não chegou a tempo. Porque o poder público continua chegando sempre depois da bala. Ela morreu porque, no Brasil, proteger quem se ama é um ato de coragem — e também de alto risco.
Tauane agora faz parte da triste estatística de mulheres negras, jovens e periféricas que morrem em meio ao fogo cruzado da violência urbana, da ausência do Estado e do silêncio social. Mas sua morte precisa ecoar. Sua história não pode ser enterrada junto com seu corpo.
Enquanto mulheres precisarem morrer para proteger quem amam, este país jamais será justo. Compartilhe. Honrar Tauane é exigir que nenhuma outra precise ser escudo.
Foto: Internet







Comentários