Alto do Cabrito Chora — Festa de Paredão Termina em Banho de Sangue e Silêncio do Poder Público
- Nilson Carvalho

- 29 de jun.
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Por Nilson Carvalho – Jornalista, Embaixador da Cultura e dos Direitos Humanos
Era para ser mais uma noite de alegria, de juventude vibrando ao som dos paredões, onde a comunidade do Alto do Cabrito se reúne para esquecer, ainda que por algumas horas, a dureza do cotidiano. Mas o que deveria ser música virou lamento. A madrugada de domingo (29) foi marcada por um ataque brutal, com dois jovens mortos e nove feridos a tiros, numa ação covarde e premeditada.
Alef Santos Alves e Alex Nepomuceno dos Santos, ambos com apenas 19 anos, tiveram seus sonhos interrompidos por balas disparadas de dentro de um carro em movimento. Alef morreu após ser levado para a UPA de Santo Inácio. Alex teve o mesmo destino, mesmo após os esforços na UPA de Pirajá. Dois nomes. Duas vidas. Dois filhos. Dois futuros que agora são só saudade.
Entre os feridos, está Laisla Paloma da Silva, 21 anos e grávida, em estado grave. A pergunta que ecoa: qual o destino de seu filho? Vai nascer sem a mãe? Ou vai sobreviver com a marca da violência antes mesmo de ver o mundo? Ao lado dela, Adriano Ferreira da Silva, também em estado grave, e outros jovens baleados – todos vítimas do mesmo cenário de abandono e insegurança que assola comunidades periféricas de Salvador.
Segundo a Polícia Militar, os disparos foram feitos de dentro de um Fiat Punto branco, que passou em frente ao Mercado Super Barato. A ação foi rápida, mas devastadora. Não foi assalto. Não foi “caso isolado”. Foi execução pública em um bairro marcado por exclusão, onde o Estado só aparece nas viaturas que chegam depois que o sangue já está no chão.
A festa do paredão, criminalizada por muitos, é muitas vezes o único espaço de cultura, expressão e encontro da juventude negra e periférica. E mesmo esses espaços são alvejados. Porque, no Brasil, ser jovem, negro e da periferia é carregar um alvo invisível nas costas.
O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) está investigando. Os laudos técnicos serão feitos. A burocracia do pós-morte será respeitada. Mas e a vida antes do disparo? Onde estava o poder público? Onde estão os investimentos em segurança, cultura, esporte, lazer, educação? Quantos mais terão que tombar até que se entenda: não são “casos” — é um sistema que permite e perpetua isso.
Não são apenas os corpos que tombam. É a esperança de uma comunidade inteira.
Enquanto nossos jovens forem enterrados aos 19, e nossas mães feridas grávidas de medo, nenhuma sociedade pode se dizer civilizada. Compartilhe. O silêncio também mata.
Foto: internet







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