A Nova Batalha Contra a Obesidade: Esperança ou Dependência Química?"
- Nilson Carvalho
- 9 de jun.
- 2 min de leitura

Subtítulo: Com a aprovação do Mounjaro pela Anvisa para tratar o sobrepeso e a obesidade, o Brasil abre um novo capítulo na luta contra a epidemia silenciosa que afeta milhões. Mas será que a solução está apenas em uma caneta injetável?
Em um país onde mais da metade da população vive com sobrepeso e onde o acesso a uma alimentação saudável é um privilégio de poucos, a aprovação do medicamento Mounjaro pela Anvisa para o tratamento de obesidade e sobrepeso com comorbidades surge como um divisor de águas — mas também levanta questionamentos éticos, sociais e de saúde pública urgentes.
Produzido pela farmacêutica Eli Lilly, o Mounjaro, já aprovado para tratamento de diabetes tipo 2, demonstrou em estudos internacionais um impacto significativo na perda de peso. Segundo o programa SURMOUNT, que acompanhou mais de 20 mil pessoas, os pacientes que utilizaram a maior dose do medicamento perderam, em média, 22,5% do peso corporal, com efeitos secundários toleráveis e, em geral, passageiros.
A promessa parece mágica. E talvez seja exatamente isso que assusta.
A pílula que cala a fome, mas não a desigualdade
Enquanto o Brasil comemora a chegada do medicamento, há uma verdade incômoda que não pode ser ignorada: a obesidade é também um sintoma da desigualdade social. O excesso de peso, muitas vezes, não é apenas resultado de más escolhas individuais, mas consequência direta de falta de acesso a alimentos de qualidade, ausência de políticas públicas eficazes, publicidade agressiva de ultraprocessados e rotinas exaustivas de trabalho que deixam pouco espaço para o cuidado com a saúde física e mental.
O Mounjaro é um avanço científico, sim. Mas também é um espelho. Reflete uma sociedade que busca atalhos enquanto ignora as raízes do problema. A solução não pode vir exclusivamente da indústria farmacêutica, sob risco de transformar a obesidade em mais um mercado, e o sofrimento humano, em lucro.
Esperança com responsabilidade
O remédio, que atua simulando os hormônios da saciedade e estimulando a produção de insulina, traz esperança para quem sofre com comorbidades associadas à obesidade e já esgotou outras opções de tratamento. No entanto, os médicos são categóricos: não é para todos. Seu uso deve ser restrito a pessoas diagnosticadas com diabetes ou obesidade, e sempre com acompanhamento clínico. Em indivíduos saudáveis, os riscos superam os benefícios.
E aqui mora outro dilema: como controlar a popularização de um medicamento que, já nos bastidores, começa a ser cobiçado por pessoas sem indicação médica, pressionadas por padrões estéticos irreais, muitas vezes impostos por redes sociais e celebridades?
Um alerta silencioso
A chegada do Mounjaro deve ser celebrada como avanço, mas não como desculpa para continuarmos adoecendo em silêncio. A verdadeira revolução não virá apenas da ciência, mas da consciência coletiva.
Precisamos urgentemente falar sobre educação alimentar, acesso justo à saúde, valorização do corpo real e combate à gordofobia. Precisamos entender que emagrecer com dignidade é diferente de se mutilar por aceitação.
"Não existe cura para a obesidade que ignore as feridas sociais que a alimentam — compartilhe esta reflexão, porque o corpo ideal é aquele que vive com dignidade."
Foto: Internet
Jornalista Nilson Carvalho, Embaixador dos Direitos humanos
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