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A Morte de Moacir — Quando o Descaminho é Construído Pelo Poder

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Por Nilson Carvalho – Jornalista, Embaixador da Cultura e dos Direitos Humanos

 

Moacir não morreu por acaso. Ele foi vítima de uma tragédia construída com o cimento da omissão, asfaltada pelo silêncio cúmplice e iluminada — ou melhor, apagada — pela negligência institucional que há anos transforma Itacimirim e Barra do Pojuca em campos de exclusão.

 

Sua morte não foi isolada. Ela é símbolo de um sistema que mata todos os dias — aos poucos, em silêncio — trabalhadores, mães, idosos, jovens e crianças, jogados à própria sorte em ruas esburacadas, escuras, sem ciclovias, sem calçadas, sem transporte público, sem segurança. Uma comunidade inteira vive à mercê do caos, enquanto os “donos do progresso” enriquecem com a dor dos invisíveis.

 

A Operação OVERCLEAN da Polícia Federal apenas confirmou o que moradores já sabiam há muito tempo: existe uma rede de corrupção, conivência e ganância que liga o poder público municipal ao setor imobiliário predatório. Em nome de empreendimentos milionários e da especulação desenfreada, famílias são empurradas para as margens — física e socialmente.

 

Moacir pedalava como milhares de trabalhadores fazem todos os dias. Não havia ciclovia. Não havia sinalização. Não havia iluminação. Não havia respeito. Ele foi atropelado por um motorista irresponsável, mas a engrenagem que permitiu isso é muito maior: começa nos gabinetes, nas construtoras, nas campanhas eleitorais financiadas com o suor e o sangue da periferia.

 

Há anos a região de Itacimirim e Barra do Pojuca sofre um processo brutal de "gentrificação disfarçada". Os lucros de poucos têm custado a vida e a dignidade de muitos. E o mais perverso disso tudo? É que o racismo estrutural está no centro dessa engrenagem. A cor da pele, a classe social, o CEP — tudo isso define quem tem direito a segurança e quem será empurrado para a morte invisível.

 

Moacir não caiu por um acidente — foi empurrado por um sistema que privilegia poucos e despreza vidas negras, pobres e periféricas. Compartilhe. Que nenhuma morte mais passe em vão.

Foto: Internet

 

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