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A Conta do Forró: Quando a Alegria do Povo É Paga com a Vergonha da Corrupção

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Por Nilson Carvalho – Jornalista, Ambientalista e Embaixador dos Direitos Humanos

 

No coração festivo da Bahia, onde a sanfona canta e o povo dança com o peito aberto, há uma nota dissonante que desafina a alegria: a corrupção institucionalizada, disfarçada de festa. Em pleno São João de 2025, enquanto multidões vibravam nas praças, prefeituras baianas escondiam da população os verdadeiros gastos com as atrações — valores que ultrapassam R$ 10 milhões a mais do que foi declarado ao Ministério Público da Bahia (MPBA).

 

Não é apenas desvio de dinheiro. É desvio de dignidade.

 

De acordo com levantamento realizado pelo impressa, oito das dez cidades com os maiores gastos declararam valores bem abaixo do que realmente investiram. Cruz das Almas, Jequié, Irecê, Santo Antônio de Jesus, Senhor do Bonfim, Conceição do Jacuípe, Livramento de Nossa Senhora e Eunápolis estão entre os principais exemplos de descaso e manipulação.

 

Em Conceição do Jacuípe, apenas 16 das 48 atrações foram comunicadas ao MP, em um rombo que esconde artistas de grande porte como Belo, Mari Fernandez e Jorge e Mateus. O Arraiá do Berimbau virou meme com um selinho dado pela prefeita em um cantor, mas a verdadeira cena que deveria chocar é o uso irresponsável dos cofres públicos.

 

Já em Cruz das Almas, o valor declarado foi de R$ 9,5 milhões, mas os gastos reais superaram R$ 10,98 milhões. E isso apenas considerando as atrações confirmadas — o que deixa no ar a pergunta: quanto mais foi omitido?

 

Irecê, Jequié, SAJ e outros municípios seguem o mesmo roteiro de maquiagem contábil, desviando a atenção com grandes shows e deixando a verdade em segundo plano. Mais de 50 atrações de alto custo em diversas cidades simplesmente “desapareceram” das prestações de contas oficiais. Os dados cruzados com os Diários Oficiais e o Tribunal de Contas dos Municípios confirmam a fraude orçamentária.

 

Enquanto isso, o povo continua esperando por escolas dignas, hospitais com estrutura, saneamento básico e segurança pública de verdade. A cultura deve ser celebrada — mas nunca ser usada como cortina para esconder o roubo do dinheiro público.

 

A alegria virou distração. E a corrupção, tradição.

O mais alarmante é que parte dessas prefeituras ainda tem até o dia 31 de julho para "ajustar" os dados. A pergunta é: ajustar ou manipular?

 

A prática de esconder contratos e superfaturar cachês ofende não só a legislação, mas o próprio espírito das festas juninas, que sempre foram símbolo de união, cultura e identidade do povo nordestino.

 

Como jornalista e defensor dos direitos humanos, afirmo: o maior crime aqui não é financeiro — é moral. É zombar da inteligência do povo, é pisar na esperança de quem precisa de políticas públicas sérias, não de pirotecnia eleitoreira. É deixar crianças sem escola e idosos sem remédio para pagar R$ 1 milhão por um show de uma hora.

 

“Quando o povo aplaude o palco e esquece de cobrar os bastidores, a corrupção dança de mãos dadas com a impunidade.”

Compartilhe. Reflita. Exija transparência. O verdadeiro show é a consciência.


Foto: Internet

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