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127 milhões e uma pergunta: quem realmente ganha no país da sorte?

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Por Nilson Carvalho – Jornalista e Embaixador da Paz e dos Direitos Humanos

 

Na noite do último sábado, uma aposta simples, feita em Matozinhos, interior de Minas Gerais, transformou um anônimo em milionário. Com apenas R$ 5 e seis números certeiros — 15, 16, 43, 46, 47 e 51 —, o novo vencedor da Mega-Sena faturou sozinho o prêmio de R$ 127.048.366,05.

 

Enquanto o Brasil celebra mais um bilhete premiado, silenciosamente milhões continuam apostando não apenas em números, mas em milagres. Porque, em um país onde a educação falha, o salário encurta e o prato esvazia, o jogo se torna não uma diversão, mas uma escapatória emocional — um suspiro de quem já perdeu a fé no sistema.

 

A Mega-Sena é, talvez, o mais irônico reflexo de uma nação em descompasso. A cada concurso, milhões depositam esperança em um pedaço de papel que promete o que o Estado não garante: dignidade, estabilidade e liberdade. Para alguns, ganhar é sorte; para outros, é a última chance de mudar de vida sem pedir esmola ao destino.

 

E por mais que a matemática diga que a chance de vitória é de 1 em 50 milhões, as filas nas lotéricas não mentem: a fé no improvável ainda é maior do que a confiança no possível.

 

Mas a pergunta que precisa ecoar é: quantos milhões continuam apostando porque foram excluídos da possibilidade real de prosperar?

 

Enquanto uma pessoa celebra sua virada histórica, mais de 33 milhões de brasileiros ainda vivem na insegurança alimentar, segundo dados recentes. E milhares de jovens periféricos trocam os livros pela luta diária de sobrevivência, sem sequer saber o que é uma loteria — porque nasceram no Brasil em que sorte não é uma questão de números, mas de CEP.

 

É urgente repensar que tipo de sociedade criamos, onde vencer na vida parece estar mais acessível numa raspadinha do que por mérito, educação e equidade.

 

O prêmio milionário é real. Mas também é real o vazio social de um povo que joga, sonha e perde — não só na loteria, mas na falta de oportunidades.

 

A sorte sorriu para um. Mas a justiça, quando vai alcançar os outros 220 milhões?

 

“Onde a esperança se resume a um bilhete, a desigualdade já venceu o jogo.”

Foto: Internet

1 comentário


Mestre Alemão Senzala Brasil
23 de jun.

A fézinha não sai de moda. Esperança do brasileiro. E não deixa de ser, para muitos, motivação de vida. Com moderação...

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